8 de fev. de 2022

O PARQUE DE DIVERSÕES ABANDONADO

 

 

Por André Bozzetto Junior

 

Os três garotos pulam a cerca protegidos pelas sombras da noite. Do lado de dentro, um cheiro residual de ferrugem, plástico queimado e sonhos reduzidos a cinzas.

– Duvido que alguma coisa ainda funcione depois do incêndio. – disse Beto.

– Vamos ver lá dentro do Trem Fantasma. – sugeriu Chico – Talvez tenham sobrado alguns bonecos de monstros.

– Vocês lembram da Patrícia, a filha dos donos? – perguntou Alemão, olhando para as melancólicas ruínas do prédio onde funcionava a administração do parque.

– Sim. – respondeu Chico – Era muito gata. Mas agora está mortinha. Queimada, junto com toda a família.

– E o irmão dela? Aquele gordão retardado, como era o nome? – questionou Beto, em tom de deboche.

– Rubens. – respondeu Alemão. Eu tinha medo daquele cara. Lembram que às vezes ele saía pelo parque gritando “Quero um abraço! Quero um abraço!” e tentando agarrar todo mundo? Sei lá, mas dizem que uma vez ele pegou uma garotinha atrás dos banheiros e...

– Conheço algumas pessoas que acham que foi o pai dessa menina que botou fogo no parque! – interrompeu Chico.

– Se era para se vingar, devia ter matado só o gordo escroto, não a família inteira. – resmungou Beto, encerrando o assunto.

O trio chegou ao que havia sobrado do Trem Fantasma.  Ainda dava para ver parte da imagem do Drácula pintada na direita da fachada. No lado esquerdo ainda se via um pouco do desenho do Lobisomem e do Monstro da Lagoa Negra. Lembranças de gritos, risadas e sustos convertidas em escombros e ferro retorcido. Do lado de dentro, a escuridão era quase total. De imediato, todos foram tomados por uma sensação de medo e angústia que beirava o pânico. Sem falar nada, se entreolhavam com a certeza de que havia algo errado. Nenhum queria ser o primeiro a sair correndo. A imagem de machão ainda valia algo para aquela geração.

De repente, a porta de metal que bloqueava a entrada foi fechada com um estrondo. Os meninos gritaram e correram a esmo pelo interior escuro e entulhado do prédio em ruínas. Um cheiro horrível que parecia ser de algo como cabelos queimados tomou conta do ambiente. Graças a um facho de luminosidade que entrava por um buraco no teto, ficou visível – apenas por um instante – o semblante de alguém se aproximando. Era grande, gordo e tomado por bizarras cicatrizes de queimaduras. Algo reluziu no escuro. Seria a lâmina de uma faca?

Foi possível se ouvir uma voz grave pronunciar de forma enrolada: “Quero um abraço!” e depois disso apenas gritos de terror e desespero.       

Um comentário:

  1. Anônimo2/13/2022

    Lembrando dos parques que vinham na cidade todo ano quando era menino (hoje em dia uma raridade). Eu sempre ia no trem fantasma mas nunca conseguia ir o caminho todo de olhos abertos kkkk

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