7 de fev. de 2023

TECNODEMÔNIOS - O APLICATIVO DE NUDES

 

         

“Os demônios representam os vícios humanos encarnados, e torturam aqueles que têm se entregado a tais vícios na vida terrena.” 
 
(MacGregor Mathers – Kabbalah Unveiled)

 

            Já passava da meia-noite quando o garoto adentrou alvoroçadamente no quarto da irmã mais velha com o celular em mãos.

            – Que susto, Bernardo! – reclamou Betina, que ainda estava acordada, manuseando o notebook sobre a cama – Como é que você vai se metendo no meu quarto assim, uma hora dessas?!

            – Mana, preciso te pedir uma coisa... – disse o garoto, ignorando a bronca da irmã e aparentando estar ansioso e constrangido ao mesmo tempo.

            – Pedir o que, moleque?! Você já devia estar dormindo! Amanhã cedo tem aula.

            – Você tem alguma nude para me passar? – questionou Bernardo, com voz trêmula.

            – Meu Deus! – gritou Betina, quase partindo para cima do garoto – Isso é coisa que se peça para a própria irmã, seu tarado?! Era só o que me faltava: um irmão pervertido! Vou contar pra mãe e você vai ver!

            – Não é nada disso! – se defendeu Bernardo, gaguejando – Não é para mim, não. É que eu preciso enviar para esse aplicativo.

            – Que aplicativo?! Que história é essa?! – perguntou a garota, parecendo cada vez mais irritada.

            – O nome do aplicativo é Dillodoker: Burning Nudes. – explicou o garoto, inquieto – Funciona assim: você pode baixar um nude de alguém que está lá e em troca tem que enviar outro, dentro de 3 minutos e 33 segundos. Mas tem que ser uma foto original, porque se for baixada da internet eles rastreiam e bloqueiam.

            – Que absurdo! – esbravejou Betina – Você nem tem idade para essas putarias! Onde baixou essa merda de aplicativo?!

            – Só tem na Deep Web. – respondeu Bernardo, sem disfarçar o constrangimento.

            – Na Deep Web?! – gritou a garota, levando as mãos à cabeça – Você é louco?! Nesse negócio só tem psicopata e pedófilo! Eu disse que o pai devia ficar de olho no que você andava acessando.

            – Os meus colegas de aula também acessam. – tentou justificar o garoto.

            – Porque são uns retardados igual a você!

            – Olha, mana... – disse o cada vez mais ansioso Bernardo, apontando para o celular – Quando você baixa uma foto abre uma contagem regressiva para enviar uma de volta... e agora já está quase acabando!

            – Eu não vou lhe passar nude nenhum, seu babaca! – gritou Betina, dando um tapa no ombro do irmão – Por que não manda uma foto sua, hein, seu depravado!

            – Eu já mandei... antes.

            A discussão entre os irmãos foi subitamente interrompida quando o smartphone de Bernardo começou a emitir uma luminosidade vermelha que ficava piscando enquanto um som de bipe passou a soar de forma cada vez mais acelerada, como se fosse um alerta.

            – Falta menos de 10 segundos... – disse o garoto, de forma tensa – E o telefone está esquentando pra caramba...

            – O que acontece quando o tempo zerar? – perguntou Betina, pela primeira vez parecendo realmente preocupada.

            – Não sei... – respondeu Bernardo, arregalando os olhos em uma expressão de pavor.

            E não houve tempo para mais nada. O celular explodiu de forma aterradora nas mãos do garoto e imediatamente as chamas se alastraram pelas mangas do seu pijama. 

        Quando os pais invadiram o quarto, atraídos pelo insólito estrondo, tiveram suas narinas tomadas pelo repulsivo fedor de carne e cabelos queimados que impregnava o ambiente. Horrorizados, viram Betina, encolhida em um canto, chorando de forma estridente e Bernardo, com o corpo completamente envolto pelas chamas, trombando de encontro às paredes, gritando em agonia.

 

                                                                           Por André Bozzetto Jr           

24 de jan. de 2023

O RELATOR DA NOITE - ENSAIO Nº 03: SOBRE A PROTEÇÃO CONTRA OS DEMÔNIOS

 

           

 Por O Relator da Noite

 

            No primeiro e no segundo ensaios desta série, acreditamos ter elucidado o que são os demônios aos quais nos referimos e porque acreditamos que a realidade consensual em que vivemos se encontra completamente infestada por eles. Embora nos textos anteriores já tenhamos feito algumas breves menções acerca de como se proteger da influência demoníaca que impregna a psicosfera do nosso mundo, agora iremos detalhar um pouco mais o assunto.

            Inicialmente, devemos nos lembrar da natureza parasitária dos demônios. Embora possam se manifestar de forma inteligente quando as circunstâncias são propícias, eles não são, em essência, mais do que formas-pensamento elementais, emanadas por consciências primordiais. Por isso sua atuação junto aos seres humanos é mais instintiva do que qualquer outra coisa, movida pela busca de nutrição que garanta seu fortalecimento. Em Magic: White and Black, Franz Hartmann diz que essas criaturas “seguem o empuxo da atração cega da mesma forma que a limalha de ferro é atraída por um ímã; onde quer que haja condições propícias ao seu desenvolvimento, para aí elas são atraídas”, e ainda acrescenta que “esses elementais vivem no reino da alma do homem, e enquanto ele viver, fortalecem-se e engordam, pois vivem do princípio vital dele e nutrem-se dos pensamentos que emite”. Segundo o autor, os demônios não apenas são as manifestações das emoções negativas da humanidade como também se retroalimentam da energia psíquica emanada pelas pessoas “contaminadas” por essas emoções, propagando assim um ciclo de ação e reação de natureza metafísica.

            Na obra supracitada, Hartmann afirma que, uma vez que os demônios já estejam impregnados no campo áurico de um indivíduo, “não podem ser eliminados por cerimônias religiosas, nem exorcizados por clérigos; só podem ser destruídos pelo poder da vontade espiritual do homem divino, que os aniquila como a luz elimina as trevas ou um raio rasga as nuvens”. Aqui, quando o autor fala em “destruir” e “eliminar”, devemos entender como a remoção dos demônios da esfera psíquica da pessoa, pois estes seres não podem ser extintos em definitivo até que haja algum humano receptivo a atraí-los [por afinidade energética], hospedá-los e nutri-los. Contudo, a vontade férrea citada pelo autor como requisito para se manter em um estado vibracional elevado que seja incompatível com a influência demoníaca não é um estado de consciência tão fácil de ser alcançado e menos ainda de ser mantido de forma prolongada. Em suas palavras: “Somente os que despertam para a consciência divina espiritual possuem esse tipo de vontade, da qual os não-regenerados nada sabem”. Porém, “aqueles que ainda não estão assim avançados podem imputar morte lenta a esses Elementais, retirando deles o alimento de que necessitam, simplesmente não desejando ou recusando-se a desfrutar sua companhia e não consentindo voluntariamente na sua existência”.

            Com base no panorama que procuramos expor no ensaio anterior, não é difícil concluir que é praticamente impossível nos dias atuais se manter imune ao assédio de alguns [ou muitos] demônios. O que pode variar imensamente é a maneira com que cada pessoa lida com isso. Tendo em vista o que nos parece ser o estado consciencial do indivíduo médio da nossa sociedade, pode-se supor que uma quantidade absurdamente grande de gente se debate cotidianamente em meio aos vícios, à desarmonia e a negatividade que tanto atrai quanto nutre os seres maléficos.

            Nos casos em que a contaminação demoníaca [muitos autores prefeririam o termo “possessão”] já é um fato consumado, quando as sombras das Qliphoth já encaminharam o sujeito no rumo da autodestruição e a sua degradação psíquica já é tal que ele não consegue sequer esboçar a “vontade férrea” necessária para expulsar os demônios do seu campo áurico por conta própria, então ele inevitavelmente precisará ser socorrido por terceiros. Em circunstâncias assim, toda ajuda deve ser considerada. Uma coisa que eu percebo é que muita gente esquece de nossa natureza multifacetada, tão bem expressa nos quatro elementos simbólicos representados pela Terra (físico), Ar (intelectual), Água (emocional) e Fogo (espiritual), de forma que um “tratamento” bem-sucedido deveria atuar sobre todos esses níveis que, apesar de intrinsecamente interligados, possuem suas particularidades. Obviamente, cada caso precisa ser analisado individualmente para então se cogitar as melhores possibilidades, que poderiam ir desde acompanhamento terapêutico com psicólogo ou psicanalista, atividades físicas, uso de medicamentos alopáticos ou homeopáticos [sempre receitados por profissional da área], até alguma(s) entre as inúmeras opções de intervenções alternativas, como, por exemplo, reiki e acupuntura.

            Contudo, acredito que, em paralelo com uma ou várias das possibilidades citadas acima, a intervenção específica no campo espiritual é indispensável. Todos os sistemas magísticos e vertentes de natureza mística possuem seus métodos de exorcismos, banimentos, desobsessões, descarregos, etc, e não tenho dúvida de que todos eles funcionam para algum tipo de pessoa. O ponto-chave é encontrar a opção que melhor se harmonize com o perfil específico de cada indivíduo. Particularmente, posso falar em favor dos ritos do Candomblé e da Umbanda [a qual frequento regularmente], que, no meu entendimento, são extremamente eficazes quando realizados em locais sérios e por pessoas capacitadas.

            Mas, nada do que citamos até aqui é suficiente por si só. Em um texto anterior mencionei um exemplo de algo que eventualmente presencio na Umbanda e ilustra o fato de que, para se livrar de um demônio não basta afastá-lo, mas também cessar o comportamento que o atrai. O que acontece algumas vezes é que a pessoa chega ao terreiro com um “encosto” [que pode ser um espírito desencarnado ou um demônio envolto em suas respectivas energias negativas] e então ela passa pelo descarrego e essas forças maléficas são removidas, saindo dali com seu campo áurico purificado. Contudo, se ela não modifica os padrões de pensamentos, sentimentos e atitudes que atraíram o ser negativo anteriormente, é só uma questão de tempo até ela granjear outro semelhante. É preciso a reforma íntima, como dizem os espíritas, a ascese de algumas seitas gnósticas, a prática de lapidar a pedra bruta, como se diz na Maçonaria.

            A urgência em se buscar vivenciar padrões vibratórios mais elevados decorre também do fato de que os demônios raramente atuam sozinhos. Quando um deles consegue se infiltrar no campo consciencial de algum indivíduo, imediatamente sua atuação começa a provocar um rebaixamento vibracional que, consequentemente, torna a vítima propícia e vulnerável à infestação. Isso pode ser muito bem ilustrado nas passagens bíblicas de Mateus 12: 43-45, citando o caso de um demônio que foi expulso de um homem por Jesus mas que, tempos depois, ao perceber a “porta aberta” e convidativa, retornou ao hospedeiro trazendo consigo outros sete demônios ainda piores do que ele, e também em Marcos 5:9, onde Jesus indagou a entidade que estava possuindo um sujeito “e perguntou-lhe: Qual é o teu nome? E lhe respondeu, dizendo: Legião é o meu nome, porque somos muitos”. Guardadas as proporções, é possível que todo mundo já tenha presenciado algo assim [ou pelo menos ouvido falar] na realidade cotidiana. Algum caso instigado pela Luxúria, motivado pela Avareza ou desencadeado pela Inveja, que posteriormente atraiu a Ira e descambou em violência. Sob a ótica dos Demônios dos Sete Pecados Capitais, é fácil traçar paralelos. Basta ler os jornais ou conferir os noticiários para ter acesso a uma gama perturbadora de exemplos.

            Tendo em vista tudo isso, nos parece evidente que buscar a profilaxia é preferível do que ter que depender de tratamentos. Mantenho a opinião, já expressada em outros momentos, de que, para fins práticos, é muito pertinente a recomendação exaustivamente frisada por Allan Kardec ao afirmar que a melhor forma de afastar a influências dos espíritos obsessores é atraindo a presença dos espíritos benévolos. Pragmaticamente, o que vale para os espíritos dos mortos vale também para os anjos e demônios. No trato com esses habitantes do Plano Astral, é muito fácil perceber que nossos pensamentos fazem com que eles nos notem, nossos sentimentos os atraem e nossas atitudes os tornam nossos aliados ou algozes, dependendo do caso. E por falar nos anjos [que podem receber inúmeras outras denominações, de acordo com o contexto], também já expusemos em outro ensaio nosso entendimento de que eles têm uma existência tão real quanto a dos demônios e sua natureza é análoga a deles, mas, obviamente, com a vital diferença de que os seres angelicais atuam através das emoções positivas, instigando nos homens, por assim dizer, sua propensão a agir em prol da harmonia e da evolução. Ter proximidade com entidades de padrões vibratórios elevados é uma óbvia maneira de manter afastadas as energias maléficas, e muitos sistemas magísticos e ordens esotéricas possuem métodos para invocar ou evocar tais seres, não sendo difícil de se obter mais informações a respeito.

            Penso ter deixado suficientemente claro o porquê de acreditarmos que o contato com as forças de outros planos da existência ocorrem até mesmo em meio a situações banais do cotidiano, ainda que a grande maioria das pessoas não se dê conta disso. É pela mais pura afinidade [semelhante atrai semelhante] que nossos padrões de pensamentos, sentimentos e atitudes definem se teremos anjos ou demônios atuando em nossas vidas.

            Existe ainda um último ponto que eu gostaria de abordar antes de encerrar este texto. Trata-se dessa dimensão extrafísica da realidade [com suas múltiplas subdivisões] que no Espiritismo é frequentemente designada como “Psicosfera” e que na maioria das vertentes ocultistas é chamada de “Plano Astral”, ainda que também seja corriqueiro entre determinados autores termos como, por exemplo, “Campo Akáshico”, “Éter”, “Luz Astral”, e que, na visão de alguns, consiste em uma interpretação mística do “Inconsciente Coletivo” junguiano. Esse é o nível da existência onde subjazem os demônios e os anjos e, consequentemente, onde pululam as forças anímicas a eles correspondentes e que se manifestam na aura humana por meio das emoções. Como nessa dimensão a lógica do espaço-tempo não está sujeita às mesmas restrições do Plano Físico, todo conteúdo emanado por qualquer consciência que exista ou tenha existido em nosso planeta [em qualquer local ou época] pode exercer influência sobre outras, uma vez que, em um nível muito profundo, todas estão emaranhadas em um mesmo substrato energético primordial. Na obra Elementargeister, Hartmann aborda o tema afirmando que um pensamento-entidade que habite o Plano Astral, proveniente de uma consciência que pode até mesmo tê-lo emanado em alguma era remota ou algum lugar longínquo tem condições de influir em outra parte do mundo sobre este ou aquele homem predisposto, amadurecer em sua mente, e tornar-se operante dentro dele.

            A conclusão que disso decorre é que todo indivíduo empenhado em refinar seu padrão de pensamentos e emoções está não apenas atuando em seu próprio benefício ao manter afastada a ameaça demoníaca como também está contribuindo com o bem-estar de toda a humanidade, ao deixar de fortalecer os demônios e, consequentemente, diminuir a esfera de influência das Qliphoth por eles habitadas. Este é o motivo pelo qual escrevo estes ensaios esquisitos. Talvez seja pretensão, mas penso que, se entre os inúmeros leitores, apenas um acreditar que estas linhas tiveram alguma serventia para a sua reflexão e subsequente expansão da consciência, então já valeu à pena. Se, por outro lado, todo mundo achar que isso não passa de bobagem sem pé e nem cabeça, mesmo assim está valendo, porque ao produzir este material eu estou estudando e aprendendo cada vez mais. Se uma única pessoa acredita que está evoluindo em algum aspecto, por mínimo que seja, então o mundo inteiro está evoluindo junto. Sempre lembro daquela máxima de Platão: “Nunca desencoraje ninguém que continuamente faz progresso, não importa quão devagar”.

            Eu não me considero nenhum exemplo de otimismo, mas quero acreditar que um dia [quiçá daqui a alguns séculos] o nível consciencial da humanidade vai ter se elevado ao ponto de a harmonia de pensamentos, sentimentos e atitudes não ser mais compatível com a presença de nenhum demônio. Talvez será o ápice da “Transição Planetária” tão alardeada pelos espíritas, ou o apogeu da “Nova Era” idealizada por tantas correntes esotéricas e pode ser que daí então estaremos finalmente livres.           

 


18 de jan. de 2023

O MEU LABIRINTO

 

 

Por André Bozzetto Jr

 

            Quando abri os olhos, já estava aqui, perdido no meio deste labirinto. Não é novidade pra mim. Eu sonho com ele há anos. Desde que entrei na faculdade. Não a de Letras, que era a que eu queria, mas sim a de Administração, que o meu pai exigiu que eu cursasse para depois gerenciar a empresa da família. Como o plano era dele e não meu, funcionou perfeitamente. Me tornei o administrador e o negócio rendeu muito dinheiro. É a única esfera da minha vida onde tive sucesso.

            O labirinto é escuro e amedrontador. Ele deve ser muito grande. Talvez tenha um ou até dois quilômetros quadrados. As paredes não são tão altas, devem ter uns quatro ou cinco metros, no máximo, mas aparentam ser muito sólidas e resistentes. Lá em cima o céu é sempre ameaçador, com nuvens escuras que parecem trazer um temporal prestes a desandar. Nunca encontrei ninguém circulando pelos corredores, mas seguidamente ouço vozes vindo de diferentes direções, chorando e gritando. Antes eu acreditava que eram as vozes de amigos que deixei para trás, de familiares que decepcionei, de namoradas que magoei. Agora começo a acreditar que são versões alternativas de mim mesmo, abandonadas a cada vez que sacrifiquei um sonho em nome de uma ilusão.

            No passado eu pensava que costumava sonhar com o labirinto de tempos em tempos, mas atualmente desconfio que sempre estive aqui e que tudo que vivenciei para além destes muros foram apenas devaneios de uma mente encarcerada. Será que sempre fui um prisioneiro?

            Naquela vida, que eu pensava ser de um homem livre, sempre permiti que me dissessem o que fazer, que me mandassem ir para lá ou para cá. Agora, sem ninguém para me apontar qual direção tomar, fico zanzando entre estes corredores sem chegar a lugar nenhum. Será que sempre estive perdido?

            Eu sento no chão e me escoro no muro. Não por cansaço, mas por desânimo. Então reparo no meu cinto. Ele tem uma fivela de metal enorme, em formato de pomba. Confesso que sempre achei brega, mas, como ganhei do meu avô e ele ficaria desapontado se eu não usasse, tive que usar. Agora ele me deu uma ideia. Uma esperança. As paredes do labirinto são revestidas por algum tipo de argamassa, em uma camada que, apesar de grossa, não é muito resistente. Ao receber alguns golpes com o metal da fivela, o revestimento esfarela, me permitindo escavar frestas grandes o suficiente para introduzir meus dedos. Assim, posso improvisar uma escada e escalar até o topo do muro. Lá de cima poderei ver para que lado fica a saída. Se as paredes forem da largura que acredito, poderei andar por cima delas, me equilibrando até onde terminam.

            Não sei quantas horas levei nessa tarefa, porque aqui o caráter ilusório do tempo é distorcido. Parece que ele nunca passa. Mas, agora já estou chegando no fim da escalada. Coloco um pé sobre o topo do muro, depois o outro, e então estou sobre as paredes. Eu olho em todas as direções. O labirinto se estende por todos os lados, até se perder de vista, ocupando cada centímetro de uma planície absolutamente gigante. Deve ter dezenas, ou, provavelmente, centenas de quilômetros quadrados. Talvez seja infinito.

            Não vejo mais como encontrar o caminho certo entre esses corredores. Sem chance. Porém, se como desconfio, isso tudo for uma prisão da minha mente, pode ser que ainda haja uma esperança. Talvez, ao invés de procurar a saída, eu precise apenas acordar. Mas, como despertar uma consciência que sempre esteve entorpecida em ilusões?

            Eu encaro o labirinto em busca de respostas e ele me encara de volta, oferecendo apenas silêncio e sombras.