17 de jun. de 2021

ENTREVISTA COM ADRIANO SIQUEIRA

 

Adriano Siqueira

1. Primeiramente, gostaria de pedir para que você fizesse uma breve apresentação aos nossos leitores, falando sobre seu envolvimento com a literatura fantástica:

Meu primeiro contato com mundo fantástico da literatura com autores nacionais, foi quando eu criei um site no antigo Geocities que era um portal onde se podia colocar contos e dar uma cara de site. E foi dessa forma que conheci mais pessoas que escreviam sobre o mesmo tema. Isso foi em 1998. Antes eu era moderador de uma BBS sobre vampirismo. A organização desses grupos naquela época era cheia de preconceitos. Quando eu já era conhecido eu levei esse grupo de amigos para o Yahoo grupos e foi aí fundado o Tinta Rubra que trouxe mais escritores e leitores. Em 2000 eu estava com um novo site no HPG que era o Conto Nuturno e eu chamei como Adorável Noite. Com isso eu pude criar em 2001 o Fanzine Adorável Noite que parou no numero 37. Esse fanzine me ajudou a entrar nas Casas Noturnas e com estande. Eu sempre levava autores com livros para lançar nessas casas na madrugada. Tudo isso foi me levando a editoras, eventos, encontros, lançamentos e palestras. Tudo registrado com minha máquina fotográfica que eu usava para alimentar os sites. Acabei indo para TV em entrevistas com gente muito famosa. E isso abriu espaço para eu publicar um livro de forma gratuita. Amor Vampiro foi lançado em 2008 e até hoje já foram lançados 37 livros fora os que eu fiz o prefácio que são mais 15 livros.

2. Antes mesmo de começar a ter seus livros publicados, você teve uma importante trajetória como fanzineiro. Fale um pouco sobre essa fase do seu trabalho:


O mais difícil em produzir fanzines era o tempo gasto para isso. Eu trabalhava na área de editoração eletrônica, chegada de noite, selecionava os contos para colocar, diagramava, colocava o arquivo PDF no disquete e levava para imprimir. Era muita correria para dobrar os fanzines pois o tamanho do meu era meia pagina A4 e eu imprimia de 60 a 100 fanzines em cada vez que eu ia em um evento ou casa noturna. É importante dizer que foi graças a esse trabalho que conheci muita gente. Muitos contatos foram se aproximando e levou a novos eventos. Tudo vira uma grande corrente. E quando se tem livros, fica bem mais fácil de vender seu produto pois muitos já conhecem o trabalho feito em blog, em sites e em fanzines. O fanzine leva as nossas histórias para fora da internet e isso é muito positivo.  

3. Você fez parte de um ótimo – ainda que curto – ciclo dentro da cena da literatura fantástica nacional que durou de 2009 até aproximadamente 2014, onde houve uma profusão de antologias, séries, coletâneas, sites e blogs especializados, eventos e publicações de livros solo de muitos autores nacionais que conseguiram espaço para expor seus trabalhos em editoras de pequeno, médio e até grande porte. O Seu livro Adorável Noite (2011), cujo exemplar autografado guardo com muito carinho na minha estante, foi um dos maiores sucessos dessa época. Eu também tive livros publicados nesse período, como Na Próxima Lua Cheia (2010) e Jarbas (2011), que tiveram repercussão muito boa. Hoje, passados mais de dez anos, como você avalia aquele momento e o legado deixado por aquele ciclo?


Realmente, André, foi uma época de ouro e nós aprendemos muito com tudo que aconteceu. Vejo que tudo foi um grande aprendizado. Eu aprendi muito e essa bagagem de aprendizado me ajudou quando fui morar em Curitiba. Quando eu usei tudo que aprendi em uma cidade que eu não conhecia. Em pouco tempo eu já estava na TV e no jornal e em menos de seis meses já tinha um livro novo que era o Sangue dos Vampiros. E lá conheci as academias de letras e o núcleo de literatura. Eu já estava experiente e foi bem mais fácil de conquistar editoras e livros. Fiquei quatro anos lá e saí de Curitiba com 6 livros com minha participação. Tudo isso agradeço as bagagens de aprendizados daquela época. Fiquei feliz em saber que o que aprendemos pode ser utilizado em qualquer cidade.

4. Como mencionamos anteriormente, apesar de intenso, aquele ciclo não teve longa duração. Se pesquisarmos na internet, veremos que a quase totalidade dos sites e blogs sobre literatura fantástica surgidos naqueles períodos estão abandonados há muito tempo, ou já não existem mais. Os eventos também arrefeceram, mesmo antes da pandemia. A grande maioria dos autores que participaram das suas antologias deixaram a produção literária de lado – muitos sem nunca ter conseguido publicar um livro solo, apesar da inegável qualidade de seus trabalhos – e as oportunidades junto às editoras parecem significativamente menores hoje em dia do que na década passada. Daquela leva de autores, você foi um dos únicos que se manteve produzindo de forma constante e regular e está muito ativo até hoje. Na sua opinião, qual seria o motivo – ou os motivos – para que aquela cena não tenha conseguido se perpetuar?

Eu vejo tudo aquilo como uma grande cozinha onde muitas receitas foram utilizadas e a popularidade trouxe mais receitas e mais clientes. Mas chegou um momento onde já não se testavam as receitas e isso causou um descontentamento geral abrindo espaço para críticos e noticias falsas sobre o universo que estava ali. Mas a falta de apoio foi mesmo o grande motivo que acabou com essa fase. Muitos queriam e se achavam merecedores de prêmios e palestras e participação em livros gratuitamente. Por nem todos terem atenção, as críticas foram aumentando. E acabou por terminar. Foram se distanciando ate que muitos eventos acabaram.

5. Você sempre foi um grande especialista no tema dos vampiros, que, historicamente, alterna ciclos de grande popularidade com outros onde se mantém fora do foco de atenção da grande mídia especializada. Como você avalia o momento atual da literatura vampírica?

Eu participei de tudo que pude. A mídia abriu um grande espaço pra mim. Existe de tudo no meio da vampirologia, vampirólogos, religiões vampíricas, estudiosos sobre filmes e histórias em quadrinhos. O mundo dos vampiros é muito vasto e acontece muito de ressurgirem os vampiros em matérias e em filmes inovadores ou livros impactantes. No ano passado participei de uma antologia sobre vampiros e fui convidado a participar, pela bagagem que tenho e a popularidade do vampiro Neculai, que muitos apreciam por ser um ser que sai do celular para atacar as pessoas. Esse vampiro tecnológico nasceu no Brasil e tenho percebido que vampiros nacionais estão dominando muito bem e estão deixando o estilo branstokeano. Um bom exemplo é a autora Maria Ferreira Dutra. Escrevemos e desenhamos muito sobre monstros e vampiros e sempre agradeço a ela essa parceria e apoio. A Maria trouxe a Escarlate, a mariposa vampira e o Chygadcarius-Oids que é um tritão, monstro marinho vampiro que está em livro e também na série de rádio Putz Grila no programa da Creepy Metal Show comandado pelo Sérgio Pires. São autores assim que a gente tem visto aparecer e as histórias são ótimas. Muito se aprendeu com a experiência que adquirimos.

6. Como você avalia, de maneira geral, a atual cena da literatura fantástica nacional, em termos de volume de publicações e qualidade do material publicado?

Existe um mercado diferenciado. Antes você precisava mostrar do que era capaz para participar de uma obra solo. Hoje existem mais oportunidades para todos em seu nível de possibilidades. Claro que ainda existem grandes editoras e seus zilhões de livros, mas também existe mercado para os que preferem ter o seu jeito independente. Querendo ou não, o mercado só pela internet acaba deixando livros e editoras equilibradas. Agora estão investindo em divulgação de livros. Antes não era um mercado muito bom. Raramente o autor investia na divulgação, hoje já se investe mais. É favorável anunciar. Existem muitos sistemas que ajudam o autor. Lives e entrevistas são uma grande fonte de informação e com os cursos aparecendo e as conversas em grupos acabam aproximando mais o leitor do escritor. Geralmente os escritores ou deixam o livro em plataformas on demand ou fazem pouca tiragem do livro físico, ou deixam a obra como e-book. Mas existem escritores que preferem uma boa tiragem para quando tiver um evento já ter os livros para vendas.

7. Há quem acredite que o foco da comunicação atual, para as mais variadas áreas, é a produção de vídeos. Você acredita que ainda há espaço para blogs como o nosso Relatos Noturnos e também os seus, focados em textos escritos?

As plataformas sempre vão mudar. Ainda mais na internet. Porém, você e eu temos bagagem e conteúdo. Não adianta só conhecer uma nova plataforma de divulgação. Tem que ter conteúdo para alimentar sempre e tem que ter público. E nós temos isso. Por esse fato, se usamos blogs ou redes sociais para divulgar nossos textos o resultado será positivo, pois tem muito conteúdo, experiência e conhecimento. É uma soma de valores que mostra muitas fontes e vivências.

8. Para concluir, gostaria de pedir para você nos falar um pouco sobre seus projetos atuais e como os leitores do blog podem ter contato com o seu trabalho:

Eu tenho um Instagram que tem crescido muito @revistaliteratopeia e meu blog é www.contosdevampiroseterror.blospot.com que já passou de um milhão de visitas. No facebook, tenho a página do Adorável Noite e o Literatopeia. Atualmente escrevo contos de tamanhos diferentes para blogs, Instagram, livros e rádio. Tenho uns 10 livros de participação em antologias para lançar ainda este ano. E estou fazendo o Livro do vampiro Neculai onde o James Gallagher Junior tem me dado muito apoio. Agradeço muito a entrevista, André, e desejo sucesso em seu novo livro, como foi nos seus outros maravilhosos trabalhos.

Adriano Siqueira e André Bozzetto Jr no "Dia dos Vampiros" de 2011, em São Paulo.

 

Um comentário:

  1. Parabéns André por ter convidado o querido Adriano Siqueira para essa riquíssima e excelente entrevista onde ele nos passa seus sólidos conhecimento vampirescos. Agradeço também ao Adriano por ter se lembrado da Escarlate,a Mulher mariposa vampira e do Chygadicarius-Oids, o Vampiro da lua minguante, personagens criados por mim. Toda a minha gratidão a vocês.

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