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8 de jan. de 2022

RETROSPECTIVA 2021

 

Chegamos à primeira postagem de 2022 e, apesar do clichê, não há momento melhor para fazermos uma retrospectiva de tudo que rolou com o blog Relatos Noturnos em seu primeiro ano de existência e, por consequência, com a minha atuação como escritor de Literatura Fantástica ao longe de 2021.
 
Inicialmente, o blog surgiu com a proposta de republicar os meus contos que haviam sido postados originalmente no extinto Escrituras da Lua Cheia, que existiu entre os anos de 2009 e 2013, além de servir de espaço para a publicação de contos inéditos. Além disso, a ideia era também dar espaço para a abordagens de outras mídias das quais sou grande apreciador, como histórias em quadrinhos, filmes e livros, seja através da divulgação do conteúdo original ou através de artigos, entrevistas e resenhas, tendo como único critério se tratar de produções à cargo de realizadores nacionais.
 
Tudo isso foi feito com louvor. Republiquei quase todos os contos do meu finado blog, apresentei ao leitor histórias inéditas de minha autoria e ainda postei muito conteúdo – entre contos, resenhas, HQs, artigos – de outros excelentes autores, renomados e reconhecidos por sua atuação junto à cena de Arte Fantástica nacional, seja no mainstream ou no underground, como Renato Rosatti, Adriano Siqueira, Gian Danton, Sidemar de Castro e Angelo Júnior, só para citar os mais presentes.
 

Importante destacar também que o Relatos Noturnos se consolidou em paralelo como um selo literário independente, através do qual republiquei os meus livros de lobisomens aclamados pela crítica e pelos leitores fãs de licantropia – Na Próxima Lua Cheia e Jarbas – que estavam esgotados há mais de dez anos, além de ter publicado o inédito Lobos do Sul, que na época do lançamento chegou a vigorar no ranking dos 10 Mais Vendidos da Amazon e na lista dos mais vendidos da semana no Clube de Autores.
 

Impossível deixar de citar outro ponto alto da minha retomada no meia da Literatura Fantástica, que foi a participação em ótimos canais do Youtube com programação voltada ao gênero, como é o caso do Milhas e Milhas, do “Mestre do Terror”, Cássio Witt (assista os vídeos clicando AQUI, AQUI, AQUI e AQUI), Horrorama (veja AQUI) e Sem Freio, de Dimitri Kozma (assista AQUI).
 

Para este 2022 que se inicia, a meta é a publicação de novos livros (novidades em breve!) e a continuação das postagens regulares do blog, com conteúdo desenvolvido por mim e por nossos colaboradores.
 
Quero finalizar agradecendo imensamente aos parceiros pelo envio de conteúdo que engrandece o blog e em especial aos leitores, que acompanham o material postado aqui, curtem compartilham e comentam nas redes sociais e adquirem os livros do selo, o que serve de enorme incentivo para se continuar produzindo cada vez mais e com o máximo de qualidade possível. Nos vemos por aí, à noite, de preferência. Valeu!  

29 de dez. de 2021

SENHORES DAS TREVAS

 


Por Gian Danton


O especial Senhores das Trevas, lançado em 1990 pela editora Nova Sampa reúne histórias de terror do mestre Mozart Couto numa fase em que ele estava diretamente envolvido com o espiritismo e isso se reflete nas histórias.

O personagem "O homeopata" é um médico que pratica projeção astral e atende pessoas com problemas espirituais. Ele comparece na edição com duas histórias, “Premonição” e “Recordações do passado”.

A primeira é a que mais se aproxima do espiritismo kardecista, com o personagem encontrando com mentores espirituais. Na história, uma moça com poderes paranormais é atormentada pela irmã dominadora. Como o protagonista descobre no plano astral, a garota deveria ter tido um filho, mas fez um aborto sob influência da irmã e o espírito que deveria nascer passa a ser um obsessor.

Na segunda história, uma moça é atormentada por pesadelos nos quais é sacrificada num ritual antigo. A investigação revela que ela de fato havia sido sacrificada em outra encarnação, o que gerou um trauma que a acompanhou por outras vidas.

Como se você, Mozart usa diretamente a doutrina espírita em suas histórias e consegue unir isso a um clima de terror como grande narrador que é.

"Hazel" é uma história que não tem roteiro de Mozart (o texto é de Júlio Emílio Braz), mas que se encaixa perfeitamente na linha da publicação de unir espiritualidade e terror. A HQ conta uma história de uma garota disposta a tudo para se tornar uma estrela de cinema, inclusive matar. Mas ela é atormentada por fantasmas do passado.

Embora não tenha conteúdo kardecista, como comunicação com espíritos ou reencarnação, “Noite feliz”é outro exemplo que se encaixa no tema do álbum. Na história, um garoto vê uma nave extraterrestre cair nas proximidade de sua casa e descobre que o alienígena é de uma raça espiritualmente evoluída. O destaque da história é o final irônico, com o tio bradando para a família: “Ei, pessoal, vamos esquecer esse pequeno incidente, afinal hoje é Natal! Que a paz e o amor estejam sempre em nossos corações”. Essa ironia narrativa faz dessa uma das melhores histórias do volume.

A edição traz ainda outras histórias mais na linha da fantasia, um gênero do qual Mozart é mestre incontestável.

O aspecto negativo da edição fica por conta do formatinho, que prejudica a arte de Mozart Couto, em especial nas histórias de fantasia.



* Para ler mais textos de Gian Danton, acesse o seu blog clicando AQUI.

30 de mar. de 2021

EUGÊNIO COLONNESE, O MESTRE DO TERROR NACIONAL

 

Por Gian Danton

 

    Eugênio Colonnese foi um dos mais importantes desenhistas de quadrinhos do Brasil. Italiano radicado no país há mais de quatro décadas, ele faleceu na madrugada do dia 8 de agosto de 2008.
 
     Colonnese começou sua carreira na Argentina, em 1949. Passou vários anos naquele país, trabalhando em revistas de sucesso, mas em 1964 veio para o Brasil, onde ajudou a fundar o estúdio D´Arte em parceria com o argentino Rodolfo Zalla. Juntos, produziram histórias em quadrinhos dos mais diversos gêneros, indo dos quadrinhos de guerra aos de super-heróis. Mas foi o terror que tornou Colonnese uma celebridade, especialmente por causa da criação de Mirza, provavelmente a primeira heroína vampira dos quadrinhos.
 
     Também criou o Morto do Pântano, um personagem de nome muito parecido com o Monstro do Pântano, que faria sucesso anos depois na DC Comics.

 
     Na década de 1970, ele abandonou os quadrinhos para se dedicar à ilustração de livros didáticos para editoras como Ática e FTD. Acabou se tornando um paradigma do gênero, trazendo a linguagem dos quadrinhos para os livros escolares. Seu traço elegante era facilmente reconhecível pelos fãs, muitos dos quais ainda guardam esses livros apenas por causa das ilustrações.
 
     Na década de 1980, quando o amigo Zalla transformou a D´arte em editora e começou a publicar as revistas Calafrio e Mestres do Terror, Colonnese voltou aos quadrinhos, fazendo antológicas histórias de terror.
 
    Também ficaram célebres as histórias em quadrinhos institucionais que ele fez para o Instituto Universal Brasileiro, nos anos 1980.
           
     Em todos os trabalhos, Colonnese sempre se revelou um exímio artista, com um traço detalhista, anatomicamente perfeito, e uma habilidade fora do comum para desenhar mulheres.
 
     Nos anos 1990 ele continuou na ativa, produzindo obras como A Arte exuberante de desenhar mulheres (Opera Graphica), Curso Completo de Desenho (Escala), ilustrou duas aventuras de Mister No, para  a editora italiana Bonelli e criou novas personagens, como Bruuna. Um de seus últimos trabalhos foi o álbum War – histórias de guerra (Opera Graphica), com roteiro de Gian Danton.
 
     Poucos meses antes de morrer, Colonnese finalizou a graphic novel A Vida de Chico Xavier, sobre o mais importante médium brasileiro.
 
  
* Publicado originalmente no blog ivancarlo.blogspot.com em 2017.
 
 

 

10 de fev. de 2021

GARRA CINZENTA: O QUADRINHO NOIR BRASILEIRO QUE É UM MISTÉRIO


 Por Gian Danton

    Publicado no jornal A Gazeta, entre 1937 e 1939, Garra Cinzenta é um dos personagens mais clássicos e interessantes do quadrinho nacional. Com roteiros de Francisco Armond e desenhos de Renato Silva, a história mostrava um vilão que apavora a Nova York da década de 1930 com uma série de crimes. Inteligente, capaz de mil disfarces e dono de vários atributos científicos, entre eles Televisões de monitoramento, o Garra desdenha da polícia da cidade enviando cartões com uma garra informando os crimes que irá cometer.
 
    Os heróis são dois inspetores de polícia, Higgins e Miller, que apesar de tentarem de tudo, nunca conseguiam pegá-lo. Sempre que conseguiam uma testemunha que poderia incriminá-lo, ela era morta.
 
    Além dos capangas comuns, O Garra Cinzenta contava com um gorila com o cérebro transplantado de um cientista, uma antiga secretária, que após sofrer lavagem cerebral se torna a femme fatale a Dama de Negro  e um robô construído pelo próprio Garra, chamado Flag.
 
    A narrativa era fortemente influenciada pelo gênero policial noir e principalmente pelos pulp fictions. O escritor Francisco Armond imitava perfeitamente o estilo de tiras famosas da época, como O Fantasma e Agente Secreto X-9 e os desenhos de Renato Silva destacavam o ar sombrio das histórias.  
 
    Uma curiosidade é que a produção das HQs envolve também um mistério: ninguém sabe quem foi Francisco Armond. Especula-se que seja pseudônimo de algum escritor ou jornalista da época. O quadrinista Gedeone Malagola afirmava que Armond na verdade era a jornalista Helena Ferraz de Abreu, mas o filho da mesma nega. O desenhista Renato Silva morreu antes que o ressurgimento do interesse pelo personagem levasse alguém a perguntar-lhe quem escrevia as histórias. Enfim, a identidade do roteirista parece mais um dos mistérios do Garra Cinzenta.
 
 
Publicado originalmente no blog ivancarlo.blogspot.com em 2017.

26 de jan. de 2021

MIRZA, A MULHER VAMPIRO

                                                                                   Por Gian Danton

A primeira vampira de sucesso dos quadrinhos surgiu no Brasil. Trata-se de Mirza, criação do desenhista italiano naturalizado brasileiro Eugênio Colonesse e do roteirista Luís Meri. A personagem surgiu na época de ouro dos quadrinhos de terror nacional, na década de 1960.
Nessa época, Colonnese e Rodolfo Zalla tinham um estúdio, o D-arte, especializado em quadrinhos, no qual chegavam a produzir 300 páginas por mês nos mais diversos gêneros (dos super-heróis aos de guerra). Um dia José Sidekerskis, da editora Jotaesse os procurou e pediu que Colonesse criasse uma personagem vampira.
No dia seguinte surgia Mirza. O nome era uma variação de Mylar, super-herói de sucesso, criado por Colonesse. "Não parecia nome de uma mulher, tanto que resolvi acrescentar no título 'a mulher vampiro' para acentuar mais. Hoje se você pesquisar na lista telefônica, vai encontrar várias Mirzas, mas naquele tempo não existia", lembra Colonnese.
A revista foi publicada em 1967 e virou um hit. Dos 35 mil exemplares impressos, sobravam pouco mais de mil. Além disso, a redação da editora começou a receber várias cartas de fãs pedindo a continuidade da personagem. O interessante é que as histórias conseguiam captar muito bem o clima erótico, elemento essencial do terror vampiro. O roteirista Luis Meri escrevia de acordo com as orientações de Colonnese, mas de vez em quando colocava uma inovação, como uma festa de lésbicas.
    Apesar do sucesso, o gibi durou apenas 10 números. A razão disso foi a mudança de ramo do desenhista. Um dia Rodolfo Zalla procurou Colonnese com a proposta de desenhar para livros didáticos. Este respondeu que não sabia fazer livros didáticos, pois sua especialidade era quadrinhos. "Uma cenoura que você fizer para um livro didático paga mais que cinco páginas de quadrinhos", rebateu Zalla. Foi o bastante para convencer o amigo. Dedicando-se apenas às ilustrações didáticas, o criador deixou de lado sua personagem, que ainda seria republicada, no início dos anos 1970, pela Editora Regiart, de forma pirata. Essa publicação manteve o interesse pelos leitores.
Na década de 1980 houve um renascimento dos quadrinhos nacionais e Colonnese acabou voltando à sua personagem mais famosa, pelas editoras Press, D-arte e Vecchi.
Eram outros tempos, de abertura política e a vampira ganhou contornos mais sensuais. Se antes ela usava um vestido longo, que cobria até suas pernas, agora ela usava decotes generosos e vestidos curtos, quando não lingerie sensual. O roteirista Osvaldo Talo colaborou nessa fase dando um passado para a personagem: ela seria uma condessa chamada Mirela Zamanova.  Uma nova história, na revista Metal Pesado, apresentou uma versão totalmente erótica da vampira.
Desde então, Mirza tem voltado em edições especiais, para jubilo dos fãs. E, quando se fala que Vampirella é a primeira vampira dos quadrinhos, ele se lembram que a grande criação de Colonnese é bem anterior.
 
* Texto publicado originalmente em ivancarlo.blogspot.com, em 2020.