30 de mar. de 2021

EUGÊNIO COLONNESE, O MESTRE DO TERROR NACIONAL

 

Por Gian Danton

 

    Eugênio Colonnese foi um dos mais importantes desenhistas de quadrinhos do Brasil. Italiano radicado no país há mais de quatro décadas, ele faleceu na madrugada do dia 8 de agosto de 2008.
 
     Colonnese começou sua carreira na Argentina, em 1949. Passou vários anos naquele país, trabalhando em revistas de sucesso, mas em 1964 veio para o Brasil, onde ajudou a fundar o estúdio D´Arte em parceria com o argentino Rodolfo Zalla. Juntos, produziram histórias em quadrinhos dos mais diversos gêneros, indo dos quadrinhos de guerra aos de super-heróis. Mas foi o terror que tornou Colonnese uma celebridade, especialmente por causa da criação de Mirza, provavelmente a primeira heroína vampira dos quadrinhos.
 
     Também criou o Morto do Pântano, um personagem de nome muito parecido com o Monstro do Pântano, que faria sucesso anos depois na DC Comics.

 
     Na década de 1970, ele abandonou os quadrinhos para se dedicar à ilustração de livros didáticos para editoras como Ática e FTD. Acabou se tornando um paradigma do gênero, trazendo a linguagem dos quadrinhos para os livros escolares. Seu traço elegante era facilmente reconhecível pelos fãs, muitos dos quais ainda guardam esses livros apenas por causa das ilustrações.
 
     Na década de 1980, quando o amigo Zalla transformou a D´arte em editora e começou a publicar as revistas Calafrio e Mestres do Terror, Colonnese voltou aos quadrinhos, fazendo antológicas histórias de terror.
 
    Também ficaram célebres as histórias em quadrinhos institucionais que ele fez para o Instituto Universal Brasileiro, nos anos 1980.
           
     Em todos os trabalhos, Colonnese sempre se revelou um exímio artista, com um traço detalhista, anatomicamente perfeito, e uma habilidade fora do comum para desenhar mulheres.
 
     Nos anos 1990 ele continuou na ativa, produzindo obras como A Arte exuberante de desenhar mulheres (Opera Graphica), Curso Completo de Desenho (Escala), ilustrou duas aventuras de Mister No, para  a editora italiana Bonelli e criou novas personagens, como Bruuna. Um de seus últimos trabalhos foi o álbum War – histórias de guerra (Opera Graphica), com roteiro de Gian Danton.
 
     Poucos meses antes de morrer, Colonnese finalizou a graphic novel A Vida de Chico Xavier, sobre o mais importante médium brasileiro.
 
  
* Publicado originalmente no blog ivancarlo.blogspot.com em 2017.
 
 

 

28 de mar. de 2021

PAIXÃO MORTAL

 


Por Adriano Siqueira

 

        Seus dentes caninos eram colocados no meu pescoço novamente. Maldita vampira. Ela me sugava toda noite… Eu tinha medo até de dormir. Sabia que ela iria aparecer de novo. Só que, desta vez, estaria preparado. Fiz uma estaca com um cabo de vassoura e peguei um martelo de carne da cozinha apaguei a luz e fiquei ali, escondido atrás da porta do quarto.

            Eu estava suando muito e ficava pensando nas noites em que fui atacado e seduzido por está vampira. Desde que a conheci eu nunca mais consegui dormir novamente. Você sabe o que é ser sugado por onze anos? Onze anos indo a clínicas, fazendo exames, tratamentos médicos, pílulas, antibióticos… Quase não conseguia sair mais da cama. Chamavam-me de louco, mas hoje ela iria pagar.

            Estava certo que ela morreria esta noite. Minhas mãos tremiam, minha boca estava seca, meus olhos mal conseguiam manter-se abertos. Chovia muito quando ouvi um barulho na janela. Isso não era comum. Ela nunca fazia barulhos. De repente escutei a janela sendo quebrada e logo em seguida ouço gemidos bem baixos. Finalmente tomei coragem e olhei para ver o que estava acontecendo.

            Era ela. Caída, com uma estaca no peito e cheia de sangue… Larguei o cabo de vassoura e o martelo. Corri para ver o que estava acontecendo e coloquei-a em meu colo… Ela olhou para mim, chorando… Alisando meu cabelo, bem devagar, ela me disse, bem baixinho:

            — Eu te amo!

            Eu arranquei a estaca de seu peito e a coloquei em meu colo. Conforme as minhas lágrimas alcançavam seu corpo, uma fumaça tomava conta daquele lugar. E quando a fumaça parou, seu corpo já não existia mais…

            Aquela noite foi longa…

25 de mar. de 2021

CIDADE FANTASMA

 

 

Por Renato Rosatti

 

                Caminhando entre as ruínas de uma pequena cidade no início desse século, o jovem Anderson Souza, de 25 anos de idade, observava ao seu redor uma brutal devastação, muitos corpos estraçalhados ou carbonizados em meio à destroços e um odor fétido de morte emanando dos cadáveres podres que foram massacrados. Ele estava ali, dois dias após a carnificina, observando a destruição total de uma cidade que não mais existia. A pequena vila no Estado de Goiás, interior central do Brasil, estava agora inexplicavelmente morta. O jovem parecia hipnotizado ao visualizar os escombros a sua volta, pensando estar vivendo um terrível pesadelo, onde a morte reinava soberana e satisfeita com sua vitória. Mas tudo era real. E nem o forte cheiro desagradável de putrefação proveniente da decomposição da carne parecia afetá-lo.

                Aquela era a sua cidade, mas ele não sabia o que havia acontecido. Estava ausente há duas semanas, acampado nas montanhas muito longe dali, descansando e pescando solitariamente. Ao retornar, encontrou tudo aniquilado e esmagado de maneira impiedosa.

                “Seria uma guerra?”, pensou. “Provavelmente não, pois não existem armas tão poderosas capazes de tamanha destruição”, concluiu.

                Os destroços não pareciam terem sido causados pelas armas convencionais que Anderson conhecia.

                Retomou a caminhada, agindo instintivamente, pisoteando escombros e restos de cadáveres que um dia foram seus amigos. Em certo ponto, ouviu um gemido agonizante próximo e localizou um homem ainda consciente entre as ruínas. Correu em sua direção e o pegou nos braços. O pobre homem não tinha uma das pernas e o sangue lhe cobria todo o corpo. Estava morrendo há dois longos dias. Delirando, balbuciou algumas palavras utilizando suas últimas forças:

                - Cuidado! Eles podem voltar!

                Mais alguns instantes se passaram e o homem morreu.

                O rapaz prosseguiu a jornada pensando nas palavras finais de agonia de um homem à espera da morte. “O que será que ele queria dizer com Eles podem voltar!?”

                Após caminhar por cerca de meia hora na cidade fantasma, o jovem repentinamente avistou no céu um estranho objeto de formato discoide repleto de luzes sobrevoando à baixa altitude a pequena vila, algo nunca visto antes. Depois apareceram muitos outros iguais, rompendo o silêncio da morte com o ruído de motores em funcionamento. O rapaz fugiu em desespero, sem entender nada, correndo por sua vida, tomado de medo e pavor.

                Ao olhar novamente para o céu, seu espanto não tinha dimensões após avistar uma gigantesca espaçonave exatamente sobre sua cabeça. O imenso disco pairava acima da pequena cidade destruída, não muito longe do solo. Ele então viu que as primeiras naves entravam e saíam dessa outra enorme.

                Agora Anderson, mergulhado em agonia, pensou estar totalmente insano perante o que via a sua volta.

                Eram seres alienígenas que preparavam um novo ataque. Suas intenções não pacíficas consistiam numa invasão em massa do planeta, destruindo tudo que encontravam. Seus objetivos eram dizimar toda forma de vida inteligente e se apossar do planeta para torná-lo seu mundo.

                Sem tempo para reagir, o jovem foi atingido por uma arma desconhecida disparada por um dos objetos menores. O tiro certeiro explodiu sua cabeça, espalhando pedaços de seu cérebro num raio de alguns metros e derrubando seu corpo inerte ao chão, mergulhando numa imensa poça de sangue e miolos.

                Eles voltaram...