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25 de nov. de 2023

CRÍTICA DO FILME: A PRESA

 

Por André Bozzetto Jr

 

            Uma discussão recorrente entre os fãs de cinema, e em especial os fãs de horror, é em relação ao termo “Trash”. Muitas vezes as pessoas tendem a interpretar a expressão trash como sinônimo de gore, ou dizer que um filme trash é necessariamente um filme desagradável de se assistir, mas será que essas interpretações são corretas? Afinal, o que é um filme trash? Que características deve ter um filme para se enquadrar nesse rótulo? Certa vez eu vi alguém comentando, se não me engano em alguma rede social, que um filme trash é aquele onde nada funciona, a direção é estapafúrdia, o roteiro é ridículo, os atores canastrões, os efeitos toscos, e apesar de tudo isso o filme ainda consegue prender a atenção do espectador. Em síntese, o filme trash é aquele que “de tão ruim acaba sendo divertido”. Particularmente, essa definição me agrada.

            Porém, partindo desse pressuposto, surge uma nova questão: como devemos classificar então os filmes onde nada funciona, a direção é estapafúrdia, o roteiro é ridículo, os atores canastrões, os efeitos toscos, e - ao contrário dos autênticos filmes trash - acabam se tornando irritantes e nada divertidos? Ainda espero por uma definição que contemple a contento esse tipo de filme, mas desde já aponto um exemplo irrevogável, que atende pelo bisonho nome de “A Presa” (The Feeding, 2006), certamente o pior filme que assisti em 2007 e muito provavelmente um dos piores que tive o desprazer de assistir ao longo de toda a minha vida de fã do gênero.

            Dirigido e roteirizado pelo fiasco em pessoa, Paul Moore, o mesmo do não menos péssimo “A Colheita” (Dark Harvest, 2004), esse tal de “A Presa” é tão ruim, mas tão ruim, que parece que foi feito de propósito para ser assim. Ou talvez foi elaborado para ser uma comédia que, de última hora, alguém decidiu que deveria ser lançado como um filme de terror, e deu no que deu. Porém, dadas às circunstâncias, mesmo que fosse uma comédia, o resultado seria igualmente catastrófico.

            Essa bomba deveria ser, teoricamente, um filme de lobisomem, mas na prática não faz diferença alguma, já que poucos ou quase nenhum elemento da mitologia das criaturas licantrópicas são aproveitados. Se fosse um filme sobre o Boitatá, a Mula-sem-cabeça ou um jacaré gigante, daria na mesma. Basicamente, a história contada por essa obra nos mostra um grupo de jovens drogados e idiotas que decidem passar um final de semana acampando nos Montes Apalaches, no interior dos EUA, sem saber que uma criatura misteriosa anda rondando pela região matando tudo que encontra pela frente, desde animais até pessoas. Simultaneamente, o contingente da Guarda Florestal responsável pela área recebe o reforço do agente especial Jack Driscoll (Robert Pralgo), um especialista em predadores que veio para auxiliar na identificação e captura da criatura que vem espalhando o pânico pelas redondezas. Logicamente, todos se verão envolvidos em muita correria em meio à mata, onde terão que enfrentar a tal criatura e lutar pelas suas vidas. Pronto. Esse é o enredo do filme.

            Mas afinal - podem se perguntar alguns – o que o torna tão ruim assim?

            Em primeiro lugar a produção (ou ausência de). Na condição de grande fã de filmes de lobisomem, acredito que um dos motivos pelos quais são produzidas poucas obras de lobisomem se comparado às de vampiros, fantasmas e zumbis, por exemplo, é devido ao fato de que os filmes abordando as criaturas licantrópicas requerem efeitos de maquiagem trabalhosos, demorados e muitas vezes caros, para dar conta da concepção da criatura. Além disso, tem o agravante das aguardadas cenas de transformações, sempre cobradas pelos fãs desse subgênero, que potencializam ainda mais as dificuldades relativas aos efeitos especiais e aos trabalhos de maquiagem. A não ser, é claro, que se apele para os efeitos em CGI, mas nesses casos os resultados costumam ser decepcionantes. Pois bem, em “A Presa” não há nenhuma cena de transformação, e a concepção do lobisomem ultrapassa todos os limites do ridículo. E sabem o que é pior? É que os próprios produtores do filme sabiam disso, tanto que, apesar de muito vasculhar na internet, não encontrei sequer uma foto da criatura, nem mesmo no site oficial do filme. Decerto eles já previam que, se a audiência conhecesse o visual do lobisomem de antemão, não se dariam ao capricho de assistir algo tão estapafúrdio.

            Mas isso não é o pior. Acreditem se puderem, mas mesmo durante o filme, nas cenas em que o monstro aparece, alguém teve a ideia brilhante de fazer com que as cores da película ficassem esmaecidas e a imagem desfocada, para que o espectador não pudesse observar com detalhes a dita criatura. Isso mesmo! Sempre que o monstro aparece a imagem fica distorcida! Mas nem isso impede o fiasco. O pobre lobisomem nada mais é do que alguém fantasiado com uma roupa muito tosca, com uma máscara que mal permite leves movimentos da mandíbula, e cujas feições lembram muito a cabeça de um jacaré. Em síntese, poderíamos dizer que o lobisomem é uma versão peluda da Cuca, aquela do Sítio do Pica-pau Amarelo, lembram?

            Mas tudo bem. Se o único problema do filme fosse a precariedade dos recursos empregados na criatura, isso seria relevável, basta levar em conta que existem vários outros filmes de lobisomem onde o monstro é tosco e mesmo assim o filme é bom, como é o caso, por exemplo, do recente “Big Bad Wolf”. Mas existem muitos outros fatores.

            O elenco, por exemplo, dá a impressão que foi recrutado na hora, e de certa forma isso parece verdade, pois com exceção de Robert Pralgo, que já participou do outros filmes “classe Z” e fez algumas pontas em seriados de TV, temos um ou dois elementos que estiveram em “A Colheita”, filme anterior do diretor, e os demais são estreantes. E que péssima estreia. As atuações são, na maior parte do tempo apáticas, mas por vezes desesperadamente exageradas.

            E tem os diálogos. Ah, os diálogos! Ed Wood ao assistir esse filme se sentiria um gênio sem paralelos na história do cinema fantástico. Prestem atenção em uma longuíssima conversa entre o agente Driscoll e sua parceira via rádio e tentem não pegar no sono ou apelar para o controle remoto para passar o filme pra frente. Detalhe: a conversa é via rádio, mas Driscoll está em cima de uma árvore e sua parceira logo abaixo, a não mais do que 2 metros de distância.

            E então chegamos nas cenas de ação, que, de certa forma, são o ponto alto do filme, pois pelo menos rendem algumas risadas, devido à semelhança com as coreografias das lutas e perseguições dos antigos filmes dos Trapalhões, onde Didi Mocó e sua turma faziam e aconteciam. Duas cenas em especial não podem deixar de ser citadas: a primeira delas ocorre quando o lobisomem invade pela primeira vez o acampamento dos jovens idiotas. Um casal de namorados está deitado no chão, e ao verem a criatura, se preparam para sair correndo. Só que um dos otários tropeça nos pés do outro, cai no chão e desmaia. Isso mesmo! É ou não é cena digna de filme dos Trapalhões?!

            A outra cena antológica acontece logo depois, quando uma agente florestal aponta um rifle para o lobisomem e ele a ergue pelo cano da arma. Dá pra acreditar nisso?! O monstro agarra o cano do rifle e o ergue, com a mulher suspensa no ar do outro lado. Surreal! E a idiota não se dá nem ao capricho de apertar o gatilho, ou soltar o rifle pra sair correndo. Fica ali, suspensa no ar, até o monstro achar que perdeu a graça e arremessá-la para longe.

            Mas não é só. Em outro momento, os agentes estão perseguindo o lobisomem com armas carregadas com dardos tranquilizantes. Até que uma agente (a mesma da hilária cena do rifle) dispara um tiro, que, devido a sua péssima pontaria, acerta um dos jovens ao invés de acertar no monstro. O detalhe incrível da situação é que, ao invés de perder os sentidos, como se espera de alguém atingido por um dardo tranquilizantes, o cara acaba ficando chapado! E o mais impressionante é que ele sai zanzando pela mata, trançando as pernas e até falando naquela gíria de malandro típica do estereótipo do pessoal que é chegado numa “erva danada”, falando frases desconexas do tipo “Poh, bicho, não quero mais ficá nessa floresta, não! Vô mi mandá, que não tô a fim de morrer, tá ligado? Tô muito doido!”. Inacreditável.

            E tem muito mais coisas. Em alguns momentos os personagens precisam de lanternas para andar na mata, em outros enxergam perfeitamente na escuridão total. Alguns personagens tropeçam, caem e desmaiam, enquanto outros são praticamente esquartejados e continuam correndo e lutando. Sem falar na inteligência extrema das figuras. Um bom exemplo é o momento em que alguns sobreviventes, ao chegarem a conclusão de que estão enfrentando um lobisomem, improvisam uma arma utilizando um artefato de prata, convictos de que essa é a única forma de matar o monstro. Pois bem, quando o lobisomem chega, o que é que um dos espertalhões faz? Ataca a criatura com um machado, mesmo sabendo que apenas a prata surtiria efeito! É demais...

            Ainda poderíamos mencionar o final, tão ridículo e forçado quando o restante do filme, mas para não incorrer em spoiler, deixo a “surpresa” para algum eventual corajoso (ou seria masoquista?) que tenha disposição para assistir essa bomba monumental.

            A certeza que fica após assistirmos “A Presa” é que, além de representar uma verdadeira ofensa ao legado das criaturas licantrópicas nas telas, o filme pelo menos seria de grande utilidade em faculdades de cinema, para que os alunos e candidatos a futuros cineastas pudessem ter a noção de tudo que não se deve fazer em um filme. Além disso, persiste uma dúvida que tem se tornado cada vez mais recorrente: com tantos ótimos filmes ainda inéditos em DVD no Brasil, como uma tralha praticamente amadora como essa conseguiu ser lançada por aqui? Mistérios das terras tupiniquins...

 

 

NOTA: As críticas desta seção foram escritas originalmente no início dos anos 2000 e publicadas em diversos sites e blogs da época.    

15 de nov. de 2023

CRÍTICA DO FILME: PERIGO MORTAL

 

Por Clayton Alexandre Zocarato

 Filosofia, morte e cinema

Chuck Norris contém a máxima existencial, de fazer filmes de ação com maestria, mas também já se aventurou no campo do terror-policial, fazendo uma interpretação em que seus chutes e socos são armas torpes contra a própria reencarnação do mal.

Em Perigo Mortal – lançado em 1994, com direção de Aaron Norris, irmão mais novo de Chuck, com quem vem desenvolvendo uma longa parceria cinematográfica ao longo dos anos, incluindo o clássico cult “Braddock 3 – O Resgate” – ocorre mistura de um pouco do “policial noir”, com profecias cristãs, voltando ao tempo das Cruzadas, onde Ricardo Coração De Leão enfrenta o servo direto do “Capiroto”, Prosatanos, que antes de ser enclausurado dentro de uma espécie de prisão sepulcral, vaticina que o próprio desejo de pecado há de fazer a humanidade a trazê-lo de volta a vida.

Voltamos para o século XX, onde dois desavisados aventureiros resolvem, se apropriarem de forma indevida das pedras preciosas contidas em quatro estacas, na tumba onde o “medonho foi fechado”, que guardam seu encarceramento eterno, e que logo em seguida em são esquartejados com toda sua fúria e ódio.

Nesse ponto, o filme traz a temática genealógica, que, “em algum momento da história a humanidade se afasta de Deus Pai todo poderoso”, caminhando lentamente, para uma demência de composição de ética, que faz assim o terror ser constituído como algo natural, onde as penumbras do pecado já não causam mais pavores por entre os filhos de Javé, e onde a cobiça material, vem a ultrapassar importância de se ter uma consciência lúdica quanto, a permanecer na fé, e assim, conter armas para persuadir, os “perigos”, de estar servindo diretamente e indiretamente as forças do mal.

Prosatanos tem interesse em recuperar seu centro demoníaco, dividido em noves pedaços, que foi disseminado em sua proteção para nove espaços diferentes ao redor do globo, e que assim parte em sua jornada de sangue, em busca desses fragmentos e que através de um ritual de sacrifico mórbido, possa reunir seus fragmentos, e colocar novamente as forças do inferno na ordem do dia.

Disfarçado por um renomado professor universitário de arqueologia da Universidade Hebraica Professor Lockley (Christopher Neame), se lançam perante uma investigação acerca de uma onda de assassinatos brutais, em busca de reunir as peças de um intrínseco quebra – cabeça para místico - cristão, onde de certa forma a salvação do mundo passa por um corpo de uma garota de programa de Chicago arremessada pela janela de um quarto de hotel barato, onde Shatter e seu parceiro Jackson (Calvin Levels), em uma noite escura de Chicago, depois de estraçalhá-la a meretriz, antes já tinha arrancado o coração de um rabino, que ousou tentar destruir o represente do Demo.

A partir desse momento seu enredo é misturado, por sátiras, de como se combater o mal através, da violência física, que produz uma mistura delação barata com uma pitada clássica ação barata dos estudos da Cannon Films, com um terror carente de sustos reais, mas que não deixa de desenvolver um glamour, em imaginar Chuck Norris, combatendo as forças das trevas, usando de astúcia, mais parecida com uma sintomatologia de atuação lembrando os embaraços do atrapalhado Inspetor Bugiganga, acrescentando a movimentos rítmicos com certo frenesi de lentidão psicomotora de comédia, lembrando Inspetor Clouseau de a Pantera Cor de Rosa.

Sim! Dentro desse espaço fílmico sentenciado a disritmias de estilísticas, que se confundem entre si, realizam complementos intelectuais e de diversões que ao mesmo tempo traçam um perfil psicológico entre terror e o riso, está um conflito latente entre tradições culturais do mundo contemporâneo.

Porém dentro de um pensamento teológico, Prosatanos representa o julgamento do homem, diante seus pecados, em se afastar da sua condição de filho de Deus, e que busca o pecado como algo para se consumir diante, um nefasto sentido de fúria em ter que cumprir com suas obrigações de “criatura malévola”.

Uma criatura que esboça uma forte rebelião psicológica, no intento de fazer Frank Sater, não somente uma lógica de sair dando pancadas e chutes em formas aleatórias, mas sim permutar uma revolta da condição humana, seja sublime a demarcar a existência do ser humano perante as provações de seu “criador”.

Dentro do sentido bíblico do Apocalipse está um lembrete, “acerca dos terrores que homem irá passar perante a se afastar de Deus”, o que não deixar de traçar um espaço artístico de fazer da terra Santa, um vasto campo de batalhas entre o “modus operandi”, de policiais de Chicago acostumados com canastrice do comportamento criminal bizarro, perante o sentimento de oração, em se procrastinar diante o desconhecido para assim ter suas almas salvas.

A busca por redenção diante o sentimento de condenação da humanidade, ao qual o servo direto do Demo, deixa impregnado que ele é somente fruto da refutação humana, em se colocar de joelhos perante o que não se pode ver, mas que de forma material sua maldade é uma característica forte do afastamento do “sapiens, defronte as vontade de Deus”.

Shatter encarna um conservadorismo empírico, de inicio em acreditar que os assassinatos aos quais está investigando contenha algum lampejo de sobrenatural, mas lentamente vai percebendo uma causa maior de sua ida para Jerusalém junto com Jackson.

Assassinatos de lideres religiosos, tanto cristãos como judeus, revelam indiretamente uma união entre as duas religiões, para guardar de forma ardente, o cetro da maldade, que virá assim trazer o Anticristo de volta para a terra.

Em paralelo a isso, ocorre um sínodo de comparações de enredo e “mise in scéne” com o “Príncipe das Sombras”, clássico terror trash dos anos oitenta, contendo Alice Cooper e Donald Pleasence (o eterno doutor Samuel Loomis dos primeiros filmes da série "Halloween"), também acompanhado de “Colheita Maldita”, “onde aquele que caminha por detrás do milharal”, faz uma alusão do retorno da maldade ao convívio direto com os homens, diante um sentido de esconder a verdade das pessoas.

Uma verdade, em se revela, que o desconhecido, causa muito embaraço, perante a penumbra de estar sendo envolvido pelo bem, que em muitos momentos, vêm alicerçados com chuvas de uma descrença do humano no espiritual, mas que dentro seu maniqueísmo está uma estrutura técnica, de limitar a mente, somente ao que seja racional, e não elencar um irracional como uma melodia de transcrever que somos reféns de uma luta incessante de Deus e o Diabo, para arrebanhar cada vez, mais “cordeiros desfalecidos, para seus espaços de condenação ou redenção.

Nesse caso, um clima “noir” de Perigo Mortal, vem a transfigurar uma bipolaridade de subjetividades, que sejam domesticadas a procurarem esclarecimentos diante do falsificacionismo perante a revelação da vinda do Papa do Inferno, está um caminho de luz de vim a se arrepender dos seus pecados mais profundos.

Em uma transcrição dialética, podemos colocar uma fenomenologia do pecado, por um caminhar de harmonizações entre mentes e corpos, que sejam um escapismo diante lograr uma fuga de profetizações e provações, em ter que se arrependerem dos seus pecados, não como uma atitude que parta do mais profundo do seu intimo de arrependimento, mas sim diante fatores externos de uma, “doença mental”, que faz o medo dado à dor física, ser maior do que receio em sofrer diante os sabujos de tormento que, “o mal espiritual pode causar”.

Nesse sentido Prosatanos, faz de suas vitimas um conjunto entre dor e barbárie, onde seus instintos mais cruéis servem como base para se compreender uma melancolia, a comiserar atitudes de causar pânico, mas que ao mesmo tempo seja uma condição de ascensão metafísica revertendo o amor de Deus, a um espelho de gnose, onde morte da sua clemência seja um vetor artístico e humanístico, para uma aproximação do homem perante as vontades do “todo poderoso”.

Shatter, em contrapartida, é um sacrário de contrapeso do herói, em ter que lutar com sua “possível fé”, diante um inimigo, intransigente e sanguinário, que detém passagem tanto para macro – espaço espiritual, como para o micro – espaço do material.

Isso se traduz de forma a enxergar Prosatanos, como um transgressor das leis físicas, que em nome de sua causa demoníaca, ovaciona provocar o “Criador”, transmitindo uma culpabilidade de sua maldade diante um virtuosismo mental, em ter que provar uma fé, que limita os prazeres, como sendo uma fuga para uma necessidade intrépida, em buscar uma “verdade universal”, traduzida em um charlatanismo messiânico discursivo e caótico, em limitar as vontades e desejos mais profundos do ser humano.

O código da inteligência dentro da maldade está relacionado em fazer uma obra cinematográfica, defrontando a maldade não puramente, em “se” existir pela maldade, mas, sim buscar esclarecimentos intelectuais diante um “labor”, de reflexões, que possam assim enunciar que dentro do sentido de uma criminalidade social, este relacionado uma condição humana, de superação de sua interação existencial e corporal quanto ao que se relaciona como sendo parte de uma intelectualidade, como também pode ser traçado como um entendimento humano, delineado na busca do bem comum.

Um bem comum, que em determinados momentos está escondido, de um esgotamento de sentimento culposo, em ter que realizar uma semiologia da abjuração de nossos piores pecados, em deixar uma imagística de arrependimento, em muitos momentos transcritos na figura do próprio pecado, pois Shatter esgarça a necessidade de “matar o mal”, mesmo que para isso esteja traçado, a não respeitar sua percepção perante o que seja de fato um fator de fazer o bem e o mal, de forma a não garantir uma “repetição de esquizofrenia deleuziana”, em ver “tudo”, como fruto do pecado que se classifique como uma metáfora quanto aos principais medos e ressentimentos humanos.

Dentro de um arcabouço “teórico deleuziano”, Prosatanos passa como uma tipologia existencial em que construir novos devaneios intelectuais, em ornamentar, tanto, “à vontade como o experimento”, onde ela traz uma patologia de estar sempre a alguns passos na frente na eterna luta entre o bem e mal, enquanto realiza através de seus experimentos psicológicos, quanto ao que pode ser classificado como sendo maldade, ou uma escolha de subjetividade humanística intelectual concisa.

Em sua subjetividade, está enraizado uma incessante diplomacia sanguinária, em fazer das pessoas ao seu redor, tanto escravos como também exemplos do seu poderio em disseminar o pecado como sendo a verdade universal, que venha afastar as pessoas da graça de estarem presentes, diante as vontades de Deus.

Usando do racionalismo de René Descartes, com a teoria da esquizofrenia de Gilles Deleuze, a maldade dentro do antagonista de Chuck Norris em Perigo Mortal eleva padrões de partículas mentais que podem fazer do obscuro, seja a porta de entrada para um dinamismo de interligar ações de um pensamento público, como privado, do que seja classificado “como sendo verdade”, dentro de uma brevidade de carestia de resistência de uma consciência que seja feita em torno de, “uma maiêutica sucinta”, que veja o terror não como “logos”, só diversão, mas sim como algo natural dentro das mais profundas vontades e desejos humanos.

Enquanto Shatter procura a todo o momento fazer justiça, Prosatanos outorga cumprir o vaticínio, de fazer o ser humano se arrepender por sua ambição e avareza, que assim vai causando mais aflição e tristeza, para uma civilização, que deseja proclamar seus pecados em público, mas que reza sempre por melhorias para ti no seu espaço privado.

Não se trata de realizar uma releitura obscura acerca da presença do mal, incessante escaldante dentro das telas, mas que sim venha propiciar um amadurecimento e um enraizamento, em analisar como nossas neuroses e desejos mais imundos e profundos, podem virem a mexer com o universo quântico, e assim provocar um alinhamento entre forças mecânicas e espirituais, que causem  uma luta apocalíptica entre Deus e o Diabo, aos quais nós seres humanos somos eternos espectadores.

Tanto Shatter como Prosastanos, estão dentro de uma sinopse de intercederem por suas ações que durante seus breves diálogos, colocam um egoísmo tanto luciferiano como cristão, que não importa o que aconteça, tem que estarmos prontos para encarar nosso destino custe o que custar, mesmo que para poder se salvar, seja necessário voltar a pecar, para tentar voltar, a ter o mandamento universal do amar incondicional, tanto corporal como espiritual.

9 de nov. de 2023

CRÍTICA DO FILME: DO INFERNO

 


Por André Bozzetto Jr

 

     Em 2001, os irmãos cineastas Allen e Albert Hughes foram responsáveis por trazer de volta às telas um dos mais intrigantes e enigmáticos personagens da história do crime : Jack, o Estripador . Como todo mundo já deve saber, no outono de 1888, esse misterioso assassino matou de forma extremamente brutal cinco mulheres (todas prostitutas) que viviam em Whitechapel, bairro pobre do leste de Londres. Apesar da série de investigações e das várias teorias elaboradas a cerca dos crimes, a identidade do assassino nunca foi descoberta. Entre a insólita lista de prováveis suspeitos, estariam desde um suposto veterinário carniceiro até um terrorista judeu, passando por um médico psicopata, um vendedor de pipocas, e até uma parteira enlouquecida.

     Em “Do Inferno”, filme dirigido pelos irmãos Hughes e estrelado por Johnny Depp, o roteiro baseia-se na HQ de mesmo nome, escrita pelo prestigiado autor Alan Moore, e que expõe de forma bastante engenhosa uma das várias teorias sobre a identidade do assassino. Para escrever sua obra, Moore realizou uma exaustiva pesquisa de mais de dez anos, onde foram consultadas as mais diversas fontes, visando obter informações o mais exatas possível. Contudo, como disse o próprio Albert Hughes: “O objetivo não é descobrir a verdade, mas sim narrar a teoria mais interessante”.

     O enredo do filme mostra o estranho inspetor Fred Abberline (Jhonny Depp) embrenhado na busca por pistas que levem até o Estripador. Para auxilia-lo, Abberline conta com a ajuda do Sargento Godley (Robbie Coltrane) e da prostituta Mary Kelly (Heather Graham), com quem acaba se envolvendo. É interessante notar como o roteiro é muito bem desenvolvido, apresentando novos personagens aos poucos, e mostrando uma série de pistas aparentemente desconexas, mas que depois culminam por revelar a identidade e a motivação do assassino.

     Em meio à trama, pode-se observar várias passagens interessantes, principalmente as que se desenvolvem em Whitechapel, onde temos uma sombria visão do submundo da Londres vitoriana, imerso em sujeira e degradação, e habitado por figuras desoladas, como prostitutas, bêbados, mendigos e cafetões. Neste sentido, destaque para a ótima cenografia, que reproduz perfeitamente esse ambiente obscuro. Também são dignas de mérito as cenas de “visões” do inspetor Abberline, que misturam subjetivismo e psicodelia com perturbadoras imagens dos crimes.

     Outro aspecto positivo dessa produção, é o fato dela abordar a história sob vários ângulos diferentes. Desta forma, temos acesso não só as ideias do inspetor, mas também ao ponto de vista das prostitutas e até o do próprio Estripador, o que torna a trama muito mais rica e atraente .

     A convincente atuação do experiente elenco também conta pontos a favor do filme, uma vez que Heather Graham repete os bons desempenhos vistos em “Boogie Nights” e “Austin Powers 2”, Robbie Coltrane surpreende, e Johnny Depp mantém-se discreto e eficiente como sempre. Inclusive, o inspetor Abberline em vários momentos acaba lembrando o detetive vivido por Depp em “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça”, embora sem os trejeitos cômicos deste. E por falar nisso, é curioso ver como o ator tem se especializado em interpretar figuras esquisitas, como em “Edward – Mãos de Tesoura” e “Ed Wood”.

     Além disso, não se pode deixar de mencionar o conteúdo de cunho social que se destaca ao longo do filme, onde os irmãos Hughes procuram mostrar claramente situações onde impera o preconceito e a exclusão social, como por exemplo nas passagens em que o Chefe de Polícia insiste que o assassino só pode ser “um judeu ou um estrangeiro”, na cena em que o inspetor vai a uma festa do Conselho de Medicina e é ridicularizado pelos médicos, ou ainda nos olhares maldosos e repreensivos dirigidos ao inspetor quando ele sai em companhia de uma prostituta.

     Para concluir, destaca-se o surpreendente final, amargo e pessimista, que foge completamente do padrão de “desfechos felizes” de Hollywood.

     Talvez, o principal aspecto negativo desse filme tenha sido mostrar bem menos sangue do que se esperava em uma produção sobre Jack, o Estripador. Mas, de qualquer maneira, é um ótimo filme de suspense que conseguiu, à sua maneira, fazer uma digna adaptação da cultuada HQ que lhe serviu de base.

 

NOTA: As críticas desta seção foram escritas originalmente no início dos anos 2000 e publicadas em diversos sites e blogs da época.  

2 de nov. de 2023

CRÍTICA DO FILME: A HORA DO ESPANTO

 

Por André Bozzetto Jr

 

     Atualmente, parece cada vez maior o número de filmes que surgem propondo novas ideias, inovações, que infelizmente acabam se perdendo em meio a situações repetitivas e roteiros repletos de clichês, fazendo com que produções que tinham tudo para se tornar sucessos culminem por naufragar e cair no esquecimento. Porém, existem casos (muito raros, diga-se de passagem) em que acontece exatamente o contrário: são justamente os clichês e os lances de apelo folclórico que tornam o filme divertido e interessante. Esse é o caso de “A Hora do Espanto”, filme de 1985, dirigido pelo eficiente Tom Holland, que não só se tornou um dos maiores clássicos dos anos 80, como também estimulou um verdadeiro revival de filmes sobre vampiros, sendo que no mesmo período foram produzidas obras como “Vamp – O Filme” (1986), “Os Garotos Perdidos” (1987), “Quando Chega a Escuridão” (1987), “A Hora do Espanto 2” (1989), entre outros.

     O roteiro deste filme apresenta uma história que não possui nada de muito extraordinário: um típico adolescente americano de classe média, chamado Charlie (William Regsdale), descobre inesperadamente que seu novo vizinho é um vampiro (Chris Sarandon, de “Brinquedo Assassino”), e está atacando as moças da cidade. Desesperado e sem saber o que fazer, Charlie decide pedir ajuda para um ator (Roddy McDowall, da série “O Planeta dos Macacos”), que interpreta o caçador de vampiros Peter Vincent em um programa de televisão. Logicamente, o ator não acredita na inusitada história do garoto, mas depois de muita insistência, acaba concordando em ajudar a investigar o caso. Depois de algumas confusões, a situação de Charlie fica extremamente complicada quando seus amigos passam a ser atacados pelo vampiro, e sua namorada acaba sendo raptada.

     De forma bastante despretensiosa, a trama vai se desenvolvendo e evidenciando alguns elementos clássicos na mitologia dos vampiros, que por alguma razão foram sendo deixados de lado com o passar do tempo. Por exemplo: neste filme o vampiro dorme em um caixão (desses comuns), tem medo de água benta e crucifixos, se transforma em morcego, e precisa ser convidado para entrar pela primeira vez na casa de alguém. Alguns podem achar bobagem, mas todos esses itens me parecem fundamentais em uma boa história de vampiros, pois já estão presentes em nosso imaginário, e sempre vemos (mesmo que inconscientemente) essas características como sendo cruciais para a existência dos vampiros. Eu, particularmente, prefiro essa linha mais tradicional do que ver vampiros que andam durante o dia e dormem em caixões hig-tec.

     Mas existem vários outros motivos que garantem o sucesso do filme, como a segura atuação do elenco (destaque para o divertido Roddy MacDowall), o nível dos efeitos especiais (muito bons para a época, e ainda eficientes se comparados com os das produções atuais do gênero) e a ótima direção de Tom Holland, que consegue prender a atenção do espectador do início ao fim, sem deixar o ritmo do filme cair. Em 1988, Holland também dirigiu “Brinquedo Assassino”, outro grande sucesso que gerou a franquia do famoso boneco “Chucky”. Pena que esse diretor ande meio sumido ultimamente.

     Como destaque, fica a interessante iniciativa de, em determinado momento do filme, transformar alguns heróis em vilões, pois apesar de não ser uma ideia nova, surtiu um resultado eficiente. A passagem em que o vampiro persegue os garotos na danceteria ficou muito legal, assim como o confronto no porão. 

     Além dessas colocações, também é importante observar que o filme segue a típica linha das produções oitentistas, com notáveis toques de humor, e um direcionamento mais voltado para a diversão do que propriamente para os sustos.

     Concluindo, posso afirmar que “A Hora do Espanto” é um dos primeiros nomes na minha lista de favoritos, pois consegue entreter e divertir de tal forma que nem se vê passar as quase duas horas do filme, e quando acaba você fica com aquela sensação de “quero mais...”. Um pouco disso se deve ao sentimento de nostalgia que alimento em relação aos saudosos anos 80, mas a verdade é que nessa década foram concebidas algumas obras inesquecíveis, e essa certamente é uma delas.

 

NOTA: As críticas desta seção foram escritas originalmente no início dos anos 2000 e publicadas em diversos sites e blogs da época.