29 de dez. de 2021

SENHORES DAS TREVAS

 


Por Gian Danton


O especial Senhores das Trevas, lançado em 1990 pela editora Nova Sampa reúne histórias de terror do mestre Mozart Couto numa fase em que ele estava diretamente envolvido com o espiritismo e isso se reflete nas histórias.

O personagem "O homeopata" é um médico que pratica projeção astral e atende pessoas com problemas espirituais. Ele comparece na edição com duas histórias, “Premonição” e “Recordações do passado”.

A primeira é a que mais se aproxima do espiritismo kardecista, com o personagem encontrando com mentores espirituais. Na história, uma moça com poderes paranormais é atormentada pela irmã dominadora. Como o protagonista descobre no plano astral, a garota deveria ter tido um filho, mas fez um aborto sob influência da irmã e o espírito que deveria nascer passa a ser um obsessor.

Na segunda história, uma moça é atormentada por pesadelos nos quais é sacrificada num ritual antigo. A investigação revela que ela de fato havia sido sacrificada em outra encarnação, o que gerou um trauma que a acompanhou por outras vidas.

Como se você, Mozart usa diretamente a doutrina espírita em suas histórias e consegue unir isso a um clima de terror como grande narrador que é.

"Hazel" é uma história que não tem roteiro de Mozart (o texto é de Júlio Emílio Braz), mas que se encaixa perfeitamente na linha da publicação de unir espiritualidade e terror. A HQ conta uma história de uma garota disposta a tudo para se tornar uma estrela de cinema, inclusive matar. Mas ela é atormentada por fantasmas do passado.

Embora não tenha conteúdo kardecista, como comunicação com espíritos ou reencarnação, “Noite feliz”é outro exemplo que se encaixa no tema do álbum. Na história, um garoto vê uma nave extraterrestre cair nas proximidade de sua casa e descobre que o alienígena é de uma raça espiritualmente evoluída. O destaque da história é o final irônico, com o tio bradando para a família: “Ei, pessoal, vamos esquecer esse pequeno incidente, afinal hoje é Natal! Que a paz e o amor estejam sempre em nossos corações”. Essa ironia narrativa faz dessa uma das melhores histórias do volume.

A edição traz ainda outras histórias mais na linha da fantasia, um gênero do qual Mozart é mestre incontestável.

O aspecto negativo da edição fica por conta do formatinho, que prejudica a arte de Mozart Couto, em especial nas histórias de fantasia.



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