19 de jul. de 2022

O REFLEXO DA MALDIÇÃO - Uma História de Lobos

 

            Por Adriano Siqueira

 

            Acordei com um barulho, parecia um grito. No caminho para a cozinha vejo uma gota de sangue no chão. Rapidamente chamo por minha mulher. Não ouço resposta. Vou para o quarto da minha filha e vejo o que eu temia. Ela estava olhando para mim. Com os olhos arregalados e algumas partes do seu corpo, estavam espalhadas pelo quarto. Comecei a vomitar, não acreditava no que via!

            – Minha filha!... Meu Deus! Quem teria feito isso?

            Andei bem devagar... Olhando para seus olhos, toquei em seu rosto ensanguentado... Lembrei dos momentos em que a vi crescer.

            Não conseguia tirar os olhos do corpo mutilado. Foi quando eu vi... Vi claramente ela sorrindo. Sua cabeça virou em minha direção... Eu caí de joelhos e coloquei minha mão na boca para não gritar. Meu Deus... Por favor meu Deus... Seus pedaços pelo chão. E se ela perceber que faltam algumas partes do seu corpo. O que vou fazer? Ela sorriu...

            – Pai, me abraça?

            – Eu estava louco? Fiquei ali. Paralisado e apavorado.

            – Me abraça papai!

            – Eu me arrastava tentando compreender tudo.

            De repente ela começou a gritar desesperadamente!

            – Lobisomem! Papai! Me ajuda! Quando olhei para trás vi a fera com sangue na boca e os olhos vermelhos. Uivando, enquanto suas garras me rasgavam.

            Consegui me livrar e corri para a cozinha. Minha mulher estava de costas perto do fogão. Porque ela não me ouviu gritar? Ela estava tirando os bolinhos de queijo do forno e falou comigo sem me olhar:

            – Querido! O café está quase pronto.

            Lourdes a nossa filha...

            – Oh! Sim ela já vem.

            Ela virou para me olhar... Seu rosto estava todo estraçalhado, a pele caia, misturando-se com o seu pescoço e sua roupa estava ensopada de sangue...

            – Lourdes, Meu Deus!

            Ela cai sem vida. Escuto novamente aquele uivo. Saio de casa e corro pela floresta. Meu coração estava disparado... Gritei por socorro, mesmo sabendo que ninguém me ouviria ali. Cansado, desmaiei próximo a estrada...

            Aos poucos meus olhos se abriram e eu estava em uma cama. Aos poucos fui conhecendo o local. Eu estava na casa do meu irmão Heitor. A porta abre e Verônica aparece com um pouco de chá.

            – Você teve uma noite difícil. 

            Verônica era a esposa do meu irmão.               

            – Minha família? Um lobo... Devorou minha família.

            – Eu sei.

            Ela me abraçou por alguns instantes.

          – Deus! Eu ainda não acredito o que fizeram com a sua família.

            – O lobo... Tinha um lobo...

            – Como era o lobo?

            – Grande... Parecia humano... Grande demais para um lobo. Ele andava como a gente. Nunca vi algo assim.

            Ela estava olhando fixamente para mim, e aos poucos Verônica desabotoou a sua camisa e me disse:

            – Era humano?

            – Não, era um lobo. Olhos vermelhos. Todo preto. Garras enormes não pareciam ser de um simples lobo. Parecia mais um leão. Seus olhos eram a própria morte.

            Ela olhou para mim e abriu a camisa sorrindo.

            – Olhe, veja o que ele fez. Venha me dar um beijo?

            Ela estava sem a pele da barriga... Tinha sangue por toda a calça.

            – Pelo amor de Deus Verônica! Por favor! Não chegue perto de mim. Por favor.

            – Mas eu quero você. Quero fazer amor. Antes que o lobo apareça.

            Eu escuto o uivo novamente quando o vejo na janela, e saio correndo.

            – Volte Cícero! Não corra do lobo! Eu preciso de você!

            Olho para trás e ainda a vejo cair sem vida.

          Continuo correndo pela floresta. De repente alguém me segura com toda força. Tento lutar, mas é em vão. Quando minha visão clareia, vejo que é meu irmão Heitor que estava me segurando.

            – Pare! Eu sei quem é o lobo. Venha! Venha agora!

            Eu não conseguia mais falar. Ele me pegou pela mão e me levou para a casa do meu outro irmão, Doutor Prático ou simplesmente Doc, um apelido que usávamos depois que ele se formou em veterinária. Era bem perto dali. Ele falava muitas coisas, mas eu ainda não entendia direito o que estava acontecendo. Já não sabia se era real ou pesadelo. Minha cabeça era um grande vazio preenchido pelo terror. Era muita coisa em uma só noite.

           Entramos na casa do Doc. Lá, tinha uma grande sala e fiquei no sofá.
            – Cícero. Fique aqui. Vou chamá-lo.

          Espero por um momento e logo vejo meus irmãos vindo em minha direção e discutindo:

         – Não me importa! Sinceramente isso não é da minha conta. Você sempre protegeu o nosso caçula. Resolva o problema você mesmo. Ele deixa Heitor na sala e sai rapidamente daquele cômodo sem falar comigo.

            Eu não acreditei! Nossa família estava morta e o meu maldito irmão mais velho não queria se envolver?

            – Não se preocupe com ele Cícero. Ele sempre foi assim.

            De repente escuto as portas e janelas se fechando. Ouço uma gargalhada. Era o Doc. O som era alto, estava vindo de um alto-falante colocado na sala. Fiquei atento, ouvindo tudo:

            – Heitor! Heitor! Finalmente você entendeu que nosso irmão caçula deve morrer.

            – Por favor! Não faça isso Doc! Eu sei que você me avisou, mas eu simplesmente não posso. Não posso! É nosso irmão! Será que você não tem coração.

            – Eu tinha... Até o lobo aparecer em nossas vidas. Até ele destruir nossa família e por isso hoje sei o que deve ser feito.

            Fiquei desesperado. Nossas famílias mortas e eles discutindo daquela forma? Não fazia sentido! Eu tinha que dizer algo.

            – Do que é que vocês estão falando? Heitor? Doc? Por favor, vamos chamar a policia. Nossa família está morrendo por causa desse maldito lobo.

            Heitor abaixa a cabeça, olha para a cintura, pega uma arma e aponta para a minha cabeça.

            – Cícero. Perdoe-me. Eu não tinha coragem para fazê-lo, mas vendo você mencionar a família só me da mais coragem de atirar. Por favor, não se mova.

        – Mas que diabos está acontecendo aqui? Porque esta apontando essa arma para mim?

            Heitor, com a arma na mão fala para o Doc.

            – Eu sei que está certo. Sei que viveu seus últimos quinze anos estudando veterinária. Escreveu muitos livros sobre a vida dos lobos. Cícero merece saber a verdade antes de morrer...

            – Tudo bem Heitor eu conto:

            – Cícero, quando éramos mais jovens, fomos atacados por um lobo você lembra?

            – Sim, Doc! É Claro. Ele voltou e é por isso que estamos aqui pedindo ajuda, mas eu não esperava que meu próprio irmão apontasse uma arma para mim...

            – Eu salvei vocês dois, só que Heitor me escondeu um segredo.

            – C... Como assim? Que segredo?

            Heitor corre em minha direção e me segura pelo colarinho, aponta a arma para minha cabeça e grita:

            – Ele te mordeu idiota! Será que não se lembra disso? O maldito lobo te mordeu!

            Eu escondi este segredo de você e do Doc, mas ele sempre desconfiou. Por isso ele colocou uma bala de prata neste revolver. Para acabar com isso. Acabar com sua vida. Com a maldição e principalmente matar o Lobo.

            – Lobo? Eu? Você está Louco. Eu o vi!

            Eu não estava acreditando. Meu próprio irmão dizendo que eu era o autor dos assassinatos, da minha própria filha, esposa e cunhada. Heitor me levou até uma das janelas da sala... Olhei para a janela e Gritei.

            – O lobo! Ele está bem aqui na janela! Atira Heitor! Atira Agora.

            Ele me segurava e gritava.

            – Cícero esta não é uma janela comum. Ela é de prata. Está mostrando seu verdadeiro reflexo. Você esta vendo o que realmente é.

            – Oh. Meu Deus. Não é possível. Não pode ser. Eu, eu...

            Não havia mais o que falar. Fiquei olhando meu reflexo. Estava, o tempo todo, tentando fugir de mim mesmo, dos meus crimes, da minha maldição.

            Por um momento olhei para o Heitor e finalmente disse.

            – Então atira. Atira agora e acabe com isso de uma vez!

            Heitor me empurra e caio sentado no sofá. Ele aponta a arma no meu peito e fica tremendo... Eu fecho os olhos e escuto ele dizer que me ama e logo em seguida um tiro. Dou um grito.

            Finalmente escuto o Doc correr para a sala.

            – Não... Não!

            Eu abro os olhos e vejo Heitor no colo do Doc. Atirou nele mesmo e estava sangrando muito, mas ainda estava vivo e disse:

            – Fracassei Doc! Ele é meu irmão... Eu o amo.

            Vejo Heitor lentamente para de respirar. O Doc fica chorando.

            – Era para ser tão simples... Tão... Tão "Prático".

            Eu queria dizer algo, mas não conseguia me mover. Algo me possuía. Olho para a janela e a vejo quebrada. A bala passou por Heitor e quebrou um dos vidros da janela. Fiquei tonto e a última coisa que vi foi a lua cheia, através da janela.

 

6 de jul. de 2022

NO ESCURO DA FLORESTA

 

Por André Bozzetto Jr

 

          Bianca largou suas coisas e sentou escorada em uma árvore. Estava suada e ofegante depois de tantas horas de caminhada. Eu nem tinha largado minha mochila quando o cheiro nojento de sovaco e cerveja chegou às minhas narinas. Logo depois eles apareceram. Eram dois. Um gordo barbudo e um magrelo desdentado. Caipiras bêbados armados com espingardas.

          – Pelo jeito não fomos longe o suficiente. – disse Bianca, depois de olhar para os sujeitos com desapontamento.

          – Estamos atrás de vocês desde a estrada, boneca. – disse o gordo, coçando o saco e sorrindo de forma maliciosa.

          As intenções ali estavam muito claras. Aqueles porcos iriam estuprar a minha esposa, roubar nossas coisas, nos matar e enterrar no mato. Numa floresta daquele tamanho, nossos corpos nunca mais seriam encontrados. Pelo menos era nisso que eles acreditavam.

          – Que tal tirar essa roupa para nos divertirmos um pouco, hein, gatinha? – disse o magrelo, enquanto abria o zíper das próprias calças.

          – Boa ideia! – concordou Bianca, começando a se despir imediatamente.

          A escuridão fria da noite já começava a tomar conta da mata. Estávamos a vários quilômetros da civilização. Ninguém ouviria os gritos.

          Bianca já estava completamente nua. Os caipiras nojentos se entreolharam desconfiados, surpresos por ser tão fácil. Mas isso durou só um momento. Logo estavam sorrindo de novo, tomados de excitação.

          Dei um passo à frente e o gordo não pensou duas vezes em apertar o gatilho de sua espingarda. O tiro me atingiu no peito e doeu pra caralho quando cai no chão úmido da floresta. Mas logo passou. Quando reabri os olhos, vi a lua cheia raiando por entre as árvores. Então o lobo despertou em meu interior.

          Levantei enquanto minhas roupas se rasgavam e meu corpo começava a ser recoberto por uma espessa camada de pelos negros. Foi nesse momento que os gritos começaram. Bianca já estava completamente transformada. A metamorfose dela sempre era mais rápida do que a minha. Um dos caipiras estava suspenso no ar, agarrado no pescoço pelas garras da formidável criatura. O outro tentava fugir rastejando pelo chão. Mas ele não iria longe. Não depois de Bianca ter lhe arrancado a perna direita.

          Fomos até lá em busca de paz, mas a morte cruzou o nosso caminho novamente. Então, que seja a morte desses porcos imundos de quem ninguém sentirá falta. Esse foi o último pensamento articulado que passou pela minha mente naquela noite. Depois a minha transformação se completou e fui me juntar à Bianca no abate.  

31 de mai. de 2022

1999: O CASO DO PALHAÇO - Parte Final

 

PARTE V

21h 20min

 

       O velho dono do hotel parecia não acreditar. Havia dois homens apontando armas para a sua cabeça. Um deles era o seu melhor segurança. O outro era um escritor local que ele próprio tinha chamado para ajudar nas investigações. Todos os demais estavam mortos. Não havia o que fazer.

       – Eu gostaria de saber a razão de tudo isso. – disse o velho, sentando-se desanimadamente em uma poltrona.

       – Ora, Sr. Schneider, nós já falamos sobre isso, embora tenha sido por uma outra perspectiva. – respondeu Rubem, com um olhar insano.

       – Não consigo entender. Aliás, a única coisa que eu entendo é que você é um doido varrido, além de um maldito filho da puta!

       – Não fique tão zangado, meu velho. No fundo somos parte disso tudo. Temos um papel fundamental nessa história. E que história! Ainda mais sangrenta que a primeira! Nossos nomes serão lembrados para sempre! – insistiu o escritor, sem desfazer o sorriso insano dos lábios.

       Renato ouvia a tudo e ria, satisfeito. O Sr. Schneider estava perplexo. Sentia uma fugaz mistura de nojo e ódio.

       – Há dez anos, o Palhaço Gargalhada matou cinco. Nós já matamos oito, e com você será nove. Somos melhores do que o original! – disse Rubem, com sádica satisfação.

       – Não pense que me assusta, seu retardado! – gritou o velho.

       – Eu não quero assustá-lo. Quero apenas que fique orgulhoso. Afinal, vai ser um dos personagens principais de um novo livro de sucesso!

       – Então é isso! Você tramou essa chacina toda, com intenção de ter conteúdo para um novo livro! Você é mais demente do que qualquer um poderia imaginar!

       – Não sei porque tanta surpresa. O Caso do Palhaço foi um dos livros mais lidos da história do nosso país! Uma continuação para esse clássico era algo praticamente obrigatório! Você consegue imaginar o alvoroço que isso irá causar? Talvez até me convidem para integrar a Academia Brasileira de Letras!

       – Você é ridículo! – insistiu o dono do hotel – Aquela bosta de livro nem fez tanto sucesso assim. E você é o Paulo Coelho, por acaso? Admita: nunca ganhou muito dinheiro escrevendo essas merdas! Mas, se é isso que espera ganhar, se estiver interessado no dinheiro, talvez possamos chegar a um acordo.

       – Eu não sou um mercenário! Não sou um porco capitalista como você! Eu sou um artista! É a arte que me interessa! É a transcendência! – retrucou Rubem, gesticulando com o revólver em mãos, de forma frenética.

       – Você deveria estar num hospício!

       – Deixe disso, Sr. Schneider! Eu sempre fui muito legal com você! Na época do primeiro livro, omiti aspectos importantes à história apenas para protegê-lo!

       – Do que você está falando, seu lunático?!

       – Eu estou falando do fato de que você andava comendo a filha do Palhaço Gargalhada! Eu estou falando do fato de que você engravidou a menina, e depois a obrigou a fazer um aborto! Eu estou falando do fato de que o pai dela ficou furioso quando descobriu isso, e que na noite em que ele enlouqueceu e invadiu o hotel matando todo mundo, a intenção dele era chegar até você! É disso que eu estou falando seu velho pervertido! Pedófilo! Aliciador de menininhas!

       O velho começou a chorar. Não estava mais aguentando aquilo tudo. Preferia morrer de uma vez.

       – O coitadinho está chorando! – disse Rubem, com extremo deboche – Será que aquela pobre menina também chorava quando você metia nela?! Me responda, seu velho Calígula! Será que ela chorou de medo naquela espelunca imunda onde você a levou para abortar?! Será que você se importava com o choro dela?!

       – Por favor, chega! – implorou o Sr. Schneider, em meio a lágrimas e soluços – Me matem logo!

       – O que acha disso, meu irmão? – perguntou Rubem para Renato – Devemos incluir no livro esse comovente choro de arrependimento do velho cão sarnento?

       – Sei lá, meu chapa. O intelectual aqui é você! Eu sou apenas mão de obra! Sou apenas o seu executor ! – respondeu o rapaz, emendando uma gargalhada.

       – Vocês são irmãos?! – indagou o velho Schneider, a ponto de enlouquecer.

       – É incrível que esse seu hotel não tenha falido! Você é um péssimo administrador! Nem conhece seus próprios empregados! O Renato trabalha aqui há um ano, e você nunca pegou a ficha dele nas mãos ? Aposto que nem sabia o seu sobrenome! Mas, para seu governo, somos irmãos, sim! Somos um prodígio da natureza!

       – Cara, você é demais! – exclamou Renato – Você devia lançar um livro de poesia!

       – Vocês são uns demônios! – gritou o dono do hotel.

       – Não! – rebateu Rubem – Nós somos a juventude dos anos 90! Nós somos a dor do mundo! Somos um trauma mal curado! Somos uma mágoa nunca esquecida! Nós somos o caos!

       Rubem ergueu as mãos ao alto em um gesto dramático e teatral. Não se sabe por quanto tempo sua insana performance ainda se estenderia caso o seu bizarro show não tivesse sido bruscamente interrompido pelo barulho de sirenes, que se aproximavam rapidamente.

       – Mas que merda é essa?! – indagou o escritor, aparvalhado – Renato, seu idiota! Você chamou a polícia de verdade?

       – Eu não, cara! Não tenho nada a ver com isso!

       – Mas então, quem foi?

       Nesse instante, como se em resposta à pergunta de Rubem, a porta se abriu, e através dela adentrou Sidnei, empunhando uma espingarda. Antes que os irmãos pudessem atacá-lo, ele disparou contra Renato, atingindo-o em cheio, e fazendo-o voar de encontro à janela, para em seguida estatelar-se na calçada lá embaixo. Mas isso foi tudo que ele pode fazer. No instante seguinte, o escritor recuperou-se do susto e acertou três tiros no peito do recém-chegado, que caiu sem vida sobre a mesinha das bebidas.

       Rubem virou-se para o Sr. Schneider. O velho continuava sentado no mesmo lugar.

       – Ainda dá tempo... – disse o dono do hotel. Seu olhar trazia uma mistura de resignação e alívio.

       – Me espere no inferno, seu depravado asqueroso! – vociferou Rubem, um segundo antes de explodir a cabeça do velho com um tiro.

       Em seguida, o escritor desatou-se a correr desenfreadamente. Em poucos instantes já estava na porta principal do hotel, através da qual esperava chegar ao bosque mais rapidamente. Tinha esperança de que a polícia ainda não tivesse chegado até ali, mas logo se frustrou. Duas viaturas estavam estacionando à sua frente, e quatro policiais desembarcavam rapidamente lhe apontando suas armas.

       – Ei, você! Mãos para cima! – ordenou um dos policiais.

       – Cuidado, ele está armado! – gritou outro.

       Rubem continuou avançando alucinadamente. Quando fez menção de apontar seu revólver na direção dos agentes, veio à ordem iminente:

       – Atirem! – ordenou o Chefe de Polícia.

       Em meio ao eco dos disparos, o escritor foi alvejado por meia dúzia de tiros e desabou a poucos metros de onde havia se estatelado o corpo de seu irmão, após este ter voado pela janela.

       – Quem é esse cara? – perguntou um dos policiais, ao se aproximar da poça de sangue onde Rubem agonizava.

            – Eu sou ... um artista ... incompreendido ... – balbuciou o escritor, antes de exalar seu último suspiro.

 

FIM.

 

 

O Caso do Palhaço é um livro escrito por André Bozzetto Jr em 1999 que acabou não sendo publicado no época e, posteriormente, seus originais foram considerados perdidos, fazendo com que permanecesse inédito por mais de 20 anos. Recentemente redescoberta, a obra está sendo agora disponibilizada gratuitamente na forma de capítulos semanais no blog Relatos Noturnos.