Por Adriano Siqueira
Saí
do vagão do metrô e subi as escadas rolantes, algumas pessoas olhavam para
frente apressadas para sair da estação. Olhavam o relógio, outras dobravam o
jornal. A roleta estava próxima e eu já a procurava. Raquel já deveria ter
chegado. O que será que ela deve estar aprontando desta vez? Comecei a lembrar
do último encontro. Ela estava vestida de preto e queria tirar fotos em um
cemitério conhecido. Ficamos a tarde toda tirando fotos. Algumas ela até
colocou em sua página pessoal na internet.
Conheci
Raquel há pouco tempo. Por e-mail e depois de muito tempo, pessoalmente.
Mostrava-se
completamente impressionada com este mundo sobre histórias de vampiros. A sua
fascinação ia mais além quando me falava que era uma vampira. Que era um dos
seres noturnos que vagava pelo mundo.
Impossível,
eu achava. Estes seres não existem. São histórias que adoro ler. Existe muito
de erótico e sedutor neles e esta fascinação leva a muitos para este tipo de
leitura.
Mas
Raquel era ansiosa. Adorava saber mais sobre eles e ler as novidades. O
primeiro encontro foi completamente dedicado ao sobrenatural. Depois do
cemitério, sentamos em uma praça e procuramos mais sobre estes seres. Ela sabia
que alguns moravam por ali e até ficamos à noite para ver se algum saía daquela
praça escondido. Por sorte, é claro, não vimos ninguém.
Parei
de pensar naquela noite por alguns instantes e voltei a procurá-la na estação,
ela ainda não havia chegado. Já passavam 15 minutos de atraso. Isso me deixou
mais preocupado. Ela realmente iria aprontar mais alguma. Fico impaciente e
começo a andar pela estação. Até que finalmente a vejo chegar. Não era difícil
reconhecê-la. Era alta e seus cabelos negros encaracolados. As roupas sempre
leves acentuando o corpo que era magro e com a pele branca. Desta vez ela veio
com um vestido vermelho e não estava sozinha. Tinha mais alguém com ela... Uma
mulher. Eu sabia que iria ser mais uma noite diferente, afinal. Porque ela
trazia uma mulher. E ela nem avisou que iria trazer mais uma pessoa.
Fui
ao seu encontro, ela me viu, nos beijamos e depois de alguns minutos parados
dentro da estação, ela me disse que chegou atrasada por ter ido à casa da sua
amiga e achou que ela iria adorar o passeio. Logo em seguida ela me apresentou.
Seu nome era Jasmine. Um nome curioso já que hoje era raro dar nomes de flores
para mulheres. Isso era coisa de livros de contos de fadas. Jasmine tinha uma
beleza natural, ela usava maquiagem bem leve, o batom era da cor da pele e seus
cabelos bem mais lisos do que da Raquel. Estava com uma saia preta e longa. A
sua pele era branca e seus olhos castanhos. Ela era mais baixa que a Raquel.
Tinha praticamente o meu tamanho e sorria educadamente. – Espero não estar
incomodando. Foi ideia da Raquel. – ela dizia.
Eu
não disse nada, apenas sorri. A culpa não foi dela mesmo, e nem sabia se eu
deveria ter o direito de estar culpando alguém. Talvez só a mim mesmo por
confiar demais na Raquel. Mas agora tinha me vindo à mente algo que ela disse
antes de sair a primeira vez comigo e que agora batia como um sino na minha
cabeça.... – Sou imprevisível. – Nunca me verá fazendo algo parecido ao dia
anterior. – Eu deveria ter escutado mais. Ou esperar algo assim depois do
último encontro. Porém, eu gostava dela e queria conhecê-la mais. Fico
imaginado o preço deste conhecimento.
Fomos
para uma casa noturna. No caminho tentei conhecer mais a Jasmine, mas a Raquel
geralmente me cortava e respondia as perguntas que eu fazia para a sua amiga.
Ela realmente não queria maiores detalhes sobre a sua amiga ou queria
protegê-la de mim, ou o contrário. Mas uma coisa era certa. Ela não queria que
eu tivesse contato com ela. Não naquele momento. Quando chegamos na fila para
entrar, ela se virou e me deu um beijo. Um longo beijo. Fiquei surpreso com a
intensidade dele. Parecia não me ver há décadas. Por vezes imaginei aquele
momento chegando. Eu estava de olhos fechados e eu nunca fecho os olhos. Por
que os fechei? Será que eu queria me sentir mais íntimo, imaginar que estou sozinho
com ela e não numa fila com a amiga dela? Mas não importava. Eu a estava
beijando de olhos fechados. Senti as mãos dela em meu rosto. Isso também era
uma novidade agradável, Não sei se fui eu que disse para ela que adorava as
mãos no rosto ou se ela fez isso sem eu dizer. Mas estava gostando. Até que a
amiga dela começou a falar que a fila estava andando e meu mundo se perdeu. Naquele momento o beijo se rompeu e
eu senti os seus lábios se separando dos meus bem lentamente. Quase os puxei de
volta. Como eu os queria de volta. Beijar era um vício mesmo.
Entramos
na casa noturna. Estávamos com sorte. Ainda tinha cadeiras vazias e poucas
pessoas no caixa para comprar bebidas. Enquanto elas procuravam um lugar para
sentar, eu fui até o caixa. Comprei umas fichas para trocar por bebidas e
voltei logo para elas. Foi quando eu tive a segunda surpresa. Elas estavam se
beijando. Eu parei de andar rápido. Aliás, parei de andar mesmo. Fiquei olhando
de longe elas se beijando sentadas. Era um beijo de paixão. De desejo. Fiquei
pensando se elas realmente queriam a minha presença. Talvez eu fosse só um
acompanhante. Já vi acontecer. Muitos vêm com uma pessoa e acabam indo com
outra para casa. Hoje o mundo era assim. Cheio de surpresas. Até que Raquel
parou de beijar a Jasmine e me chamou para a mesa.
Eu
fui... bem devagar, garanto. Estava procurando palavras. E eu sabia que
não era bem eu que deveria dizer algo, mas estava procurando palavras assim
mesmo. Eu é que não queria ficar calado. Nem que fosse para mostrar bom humor.
Eu estava intrigado e curioso com o que ia acontecer o resto da noite.
Elas
olharam para mim e eu fiquei segurando as fichas que tinha comprado no caixa.
Raquel olhou para mim e para as fichas... Ela vai dizer algo... Eu estava
prestando atenção completa a elas. Esperando alguma palavra, qualquer uma. A
Raquel olhou para mim e disse: – Dois refrigerantes.
Fiquei
olhando mais alguns segundos. Ela riu e mostrou dois dedos para mim e disse
novamente, bem devagar: – Dois refrigerantes gelados.
Não
acredito que ela não ia dizer nada. Olhei o bar, fui até o barman e pedi do
mesmo jeito que ela fez. Mostrando os dedos: – Dois refrigerantes.
Voltei
à mesa. Desta vez a Raquel estava sozinha. Eu ia perguntar onde a Jasmine
estava, mas ela me silenciou colocando de leve um dedo nos meus lábios. E logo
em seguida me beijou. Aquele beijo que havia recebido minutos atrás na fila.
Intenso... apaixonante, mas desta vez com uma diferença. Um leve gosto de
ferrugem... Eu já havia sentindo aquele gosto antes. Quando criança... quando
cortei o dedo e coloquei na boca. Lembrei do gosto. Afastei-a e eu vi a sua
boca mais vermelha. Mais brilhante. Ela estava com sangue na boca. Levantei da
cadeira e me afastei. Ela sorriu e tomou o refrigerante: – Venha. – ela dizia
calmamente. – Não vai doer. – ela sorria como se fosse normal. Havia muitas
perguntas na minha cabeça. O sangue era dela? Era da Jasmine? Porque queria que
eu soubesse? No que eu estava me metendo?
Raquel,
vendo-me sem ação, pegou na minha mão. Ficou tocando meus dedos vagarosamente,
levantou-se e me levou para a pista de dança. A pista ainda não estava muito
cheia. Vi claramente Jasmine dançando no centro da pista. Ela não estava
sozinha. Tinha um rapaz com ela. Eu não consegui ver o rosto dele. Raquel estava
me abraçando e pedia a minha atenção. Deu-me outro beijo e ficamos ali,
dançando e se beijando. Novamente eu fechei os olhos. Hoje estava sendo uma
noite muito diferente, nunca beijei ninguém de olhos fechados. O que estava
acontecendo comigo? Mas deixei as perguntas de lado. O beijo dela era muito
bom. Eu estava abraçado com ela e podia jurar que alguém estava respirando bem
perto do meu ouvido. Abri os olhos e interrompi o beijo por alguns segundos
para ver quem estava ao meu lado. Não havia ninguém. A pista estava vazia. Tão
rápido. Não era possível. Tudo bem que não havia muita gente naquela hora, mas
eu podia jurar que passava de 20 pessoas. E simplesmente sumiram. Raquel não
estava surpresa. Estava olhando para mim e tentando me beijar novamente. Eu
recusei... Fiquei preocupado com a amiga dela. Que havia sumido junto com o
pessoal. Ela não conhecia o cara que estava com ela. Falei para a Raquel que eu
iria procurá-la, mas ela não entendeu muito. Eu disse para ela ficar ali
enquanto eu a procurava. Ela não ficou. Raquel voltou para a mesa. Não estava
de bom humor. Foi a primeira vez que a vi desta maneira. Fui à procura da
Jasmine. Olhei em todos os cantos possíveis. Até que eu fui procurá-la no
banheiro. Olhei para o chão e encontrei o cara que estava com ela. A cara dele
enfiada na privada. Talvez estivesse passando mal. Eu toquei no ombro dele e
ele caiu.... Eu vi o seu rosto e de repente meu coração acelerou muito.
Seus
olhos estavam bem abertos e o seu pescoço tinha um corte de, pelo menos, uns
quinze centímetros. A camisa dele estava banhada em sangue.
Jasmine. Eu só pensava na
Jasmine. Será que ela também teve o mesmo fim? Onde ela estaria?
Corri
pela casa noturna. Procurei um segurança. Ele estava de mau humor, mas foi
comigo até o banheiro. Mostrei para ele onde o cara estava. O segurança entrou
e eu fiquei esperando preocupado. Afinal, ainda não sabia onde Jasmine estaria.
Quando elaborava um plano para tirar as meninas de lá, fui agarrado e jogado na
parede. Era o segurança. Que gritava coisas incompreensíveis. E me deixou ali
no chão e voltou para frente da casa.
Eu
não entendi nada. Entrei no banheiro novamente e o corpo do rapaz não estava
mais ali.
Não
havia nem sinal de sangue. – Agora chega! – eu disse, e fui procurar Jasmine e
a Raquel. Eu tinha que tirá-las dali.
Conforme
me aproximei da mesa onde estávamos, percebi que havia mais alguém com elas.
Mais surpresas. As coisas pareciam piorar conforme o tempo passava. O que era uma diversão estava se
transformando em um pesadelo.
Não
acreditei no que vi. O rapaz que encontrei no banheiro praticamente morto.
Estava ali. Vivo e sorrindo.
Antes
que eu tivesse fôlego para falar, Raquel pega na minha mão e me puxa para
sentar com ela. E ao primeiro sinal de explodir de raiva, ela me beija com
força. Desta vez ela cola os seus lábios aos meus e só para por alguns
instantes para me perguntar se estou gostando daquela noite. Novamente, eu não
tive tempo de responder. Raquel estava se divertindo. Ela sabia de algo que eu
não sabia e isso me deixava fora de órbita. Estava louco por respostas. Eu
tentei várias vezes dizer que tinha algo errado, mas ela só me beijava e me
tocava, possuída. Aquele gosto de sangue veio a minha boca novamente. Não
liguei. Desta vez eu queria seu beijo até o fim. Minha paixão por ela estava
chegando no limite. Eu não queria fazer nada, apenas ficar ali aproveitando os
seus toques. Com os olhos fechados eu pensava. Era só eu e ela... escutei de
novo a respiração bem forte perto dos meus ouvidos. Não. Não era nada, eu
queria ficar com a Raquel. Era imaginação. Não vou interromper. Mas a
respiração ficava mais forte e senti a língua de alguém passar no meu ouvido e
uma voz dizendo: – Relaxe... Fique calmo.
Eu
não queria abrir os olhos. Eu queria me concentrar nos toques da Raquel. Mas os
toques foram sumindo. Como se ela se afastasse. Outros toques apareceram...
eram mais fortes. As mãos diferentes, mais pesadas e outras mais leves. Abri os
olhos e percebi que eu estava em cima da mesa. O rapaz sugava o sangue do meu
braço e a Jasmine estava no meu pescoço. A Raquel estava me olhando bem a minha
frente. Eu tentei gritar para ela, mas ela só fazia sinal de silêncio. Levantei
a mão em sua direção. Estava perdendo os sentidos. Meu corpo estava fraco...
Até que finalmente... Tudo escureceu.
Parte 2
Escutei
algumas vozes e aos poucos abri os olhos e olhei a minha volta. Eles estavam
comigo. Eu estava no colo da Raquel. Ela conversava com os seus amigos até que
percebeu que eu estava acordado. Ela colocou a mão nos meus cabelos e ficou
alisando. Deu um sorriso. Eu me acomodei e fiquei sentando. Ela me
abraçou. Olhei para a Jasmine que segurava um copo e sorria. Eu poderia jurar
que vi os dentes caninos bem salientes. Mas quando eu ia ter certeza, Raquel
virou meu rosto e ficou olhando meus olhos. – Agora está tudo bem. – ela dizia
baixinho. – Sempre estaremos juntos. Eternamente juntos.
Eu
perguntei por que estava tão claro e ela disse que a minha visão estava mais
apurada e que não eram as luzes que acenderam, mas os meus olhos estavam vendo
além de qualquer humano. E, realmente, ela tinha razão. Eu estava vendo
detalhes que não via antes. As rachaduras das paredes estavam mais nítidas.
Podia ver os insetos passando por baixo das mesas, escondidos nas beiradas do chão.
Eu olhei para os olhos dela e os vi brilharem mais. Ela me interrompeu
novamente para me dizer que ainda faltavam mais alguns detalhes. Eu não entendi
direito. Até que ela chamou a Jasmine, que veio olhando para os meus olhos.
Percebi que ela mordia a beirada do seu lábio inferior. Algumas gotas de sangue
apareceram. Ela aproximou-se e eu recuei como podia. Fui agarrado por trás.
Novamente, aquele rapaz me segurava, agora pelos braços. Eu perguntei o que
acontecia. Mas a Raquel sorriu e disse:
–
Não aprecia os lábios da Jasmine? Talvez um homem seja a sua preferência.
Ela
puxa meus cabelos e levanta o meu rosto. Meus sentidos estavam embaralhados
naquele momento. Eu estava tonto. Com náuseas. Eu não queria mais sangue.
Tentava de toda a maneira me livrar daquela situação, mas era impossível.
Minhas forças tinham me abandonado. Jasmine tocou o meu rosto com as suas mãos,
ergueu a minha face e ficamos nos olhando por um momento. Seus olhos brilhavam.
Raquel alisava o cabelo de Jasmine. Colocando-os para trás e mostrando o seu
pescoço. Ela passava as mãos e beijava levemente. Jasmine estava com a boca
aberta e a língua estava aparecendo delicadamente. Eu lambi meus lábios e a
beijei. A sua língua entrou na minha boca rapidamente e senti novamente o gosto
do seu sangue. Fiquei chupando sua língua por algum tempo e engoli o sangue que
saia do seu lábio inferior. Raquel começou a beijar os nossos rostos. Quase
senti os lábios dela se misturando com o nosso beijo. Senti a sua língua
passear sobre nossos lábios. Meus olhos se fecharam novamente. Desta vez não
era para imaginar que estávamos sozinhos, mas foi de pura luxúria, de êxtase,
de prazer. O rapaz que me agarrava soltou meus braços e direcionei as minhas
mãos para o cabelo delas. Eu não era mais o mesmo. Minha força tinha voltado.
Minhas pernas estavam firmes. Senti muita ansiedade e vontade de mais e mais
prazer. Jasmine parou de me beijar e tentou sair dali, mas Raquel a segurou
pelo braço e disse:
–
Fique aqui até o final. Eu quero que você assista tudo desta vez.
–
Assistir o que? – eu perguntava curioso.
–
A sua morte, meu querido. Quero que ela veja tudo... Ela nunca gostou de ficar
nestas horas. Ela sempre se afasta. Acha que isso a deixa pura e se remorsos.
Mas hoje será diferente. Quero que ela assista todos os detalhes.
Eu
não tive tempo de retrucar, nem de perguntar o que iria acontecer. Se eu estava
para morrer e se eles iriam assistir, já não me importava aquele assunto. Eu
senti um formigamento por todo o corpo. A tontura possuiu meu corpo e a fadiga
me vencia.
Não
tive outra escolha senão procurar rapidamente um lugar para me sentar. O ar me
faltava. Estava sufocado. Debati-me como se estivesse afogado. Não tinha
explicação. Eram momentos horríveis. Segurava o meu pescoço tentando respirar,
arranquei a minha camisa, e tudo o que eu via era Jasmine chorando e a Raquel
segurando o cabelo dela para continuar olhando para mim. A escuridão veio
rapidamente e não sentia mais meu corpo.
Em
meio à escuridão e sem nenhum sinal de barulho, senti meu corpo flutuar. Estava
parado como se estivesse caindo no fundo de um mar. Passei a mão na minha
frente, mas não conseguia vê-las. Vi pequenas luzes. Eu forcei a vista para ver
melhor, mas eram muito pequenas. As luzes aumentavam. Elas se separaram. Estavam
ao meu redor. Voando tão rápido que eu não conseguia acompanhá-las. Elas
estavam crescendo. Delas saíram braços e asas. Usavam amuletos. Eu tentei ler.
Todos tinham amuletos que começavam com a letra “S”. Eles me empurram. Jogam-me
de um lado para outro. Rasgavam o meu peito e tentavam arrancar o meu coração
com toda a força. Eu gritava, mas a voz não saia. Eles tentaram de tudo para
arrancar, mas não conseguiram. Eles me chutam e me batem, falam entre eles e
logo eles voam para longe. Tento chorar de dor, mas as lágrimas não vêm. Meu
coração, praticamente amassado por eles, me deixa indefeso e sem esperança.
Tento respirar, mas não tenho sucesso. Eu pego meu coração, o tateio. Fico
chacoalhando para ver se volta a bater novamente, mas novamente não obtenho
sucesso. Como última esperança, enrolo usando as veias que o prendia e
coloco dentro do meu peito. Pressiono o meu peito e fico parado, esperando o
meu fim. Foi aí que ouvi meu nome.
–
Roger.
Eu
já tinha praticamente esquecido o meu nome. Depois daquela noite eu nem sabia
como me chamar mais.
A
voz era da Raquel. Ela deveria estar preocupada. Nunca me chamava pelo nome. Eu
abri os olhos... Lentamente. Estava ainda na casa noturna. Deitado em um sofá.
Ela passava a mão no meu rosto. Jasmine estava sentada bem perto da minha
perna. Estava com a cabeça baixa, com as mãos no rosto. Raquel sorria. Antes
que eu perguntasse o que aconteceu ela me perguntou.
–
Como foi a luta com os anjos?
–
Eram anjos? Se forem, eu não gostaria de conhecer um demônio.
–
Eles tentaram salvá-lo. Não conseguiram. Agora você faz parte de nós.
–
Esses anjos usavam amuletos com a letra “S”!
Jasmine
me olhou por um momento e depois olhou para Raquel e disse, gritando:
–
Sanni, Sansanni e Semangelaf!
–
Tem certeza? Jasmine.
–
Sim. Os anjos caçadores. Os mesmos que aprisionaram Lilith.
Eu
me levantei e fiquei mexendo o meu corpo para ver se estava tudo bem. Toquei em
meu peito, mas meu coração ainda não batia. Tentei cheirar minhas mãos, mas por
mais que eu enchesse os pulmões de ar eu não conseguia sentir o ar entrando.
Tudo estava congelado dentro de mim.
Eu
não sentia frio e nem a minha pele se arrepiava. Passei a mão no meu braço e
era como se eu estivesse coberto com algum tecido. Eu havia perdido o tato.
Estava tão preocupado com o meu estado que não dei muita atenção à conversa
delas. Até que elas perceberam que eu estava precisando de ajuda. Raquel me
pegou pelo braço e me ajudou a sentar novamente.
–
Não se preocupe... Logo você vai se acostumar. Tome isso.
Ela
mordeu a ponta do dedo e passou na minha boca.
Senti
por alguns instantes vários sentidos voltarem de uma vez. Paladar, olfato,
tato. Fiquei eufórico por alguns instantes e perguntei:
–
Apenas uma gota de sangue faz tudo isso?
–
Sim, Roger. O sangue não é apenas um alimento. É uma fonte para sentir o que os
humanos sentem.
–
Incrível. Mas... E o sexo?
–
A pergunta veio mais rápida do que imaginei.
Jasmine
interrompe.
–
Vocês não têm noção do que aconteceu? Roger foi atacado pelos mesmos anjos que
a Lilith. Será que não percebem?
–
O que é mais importante que o sexo? – pergunta Roger.
–
Significa que você é tão poderoso quanto ela. E que você deve ser o mestre que
voltou para reinar.
–
Mestre? Eu não entendo.
–
Aqueles anjos nunca apareceram para nós. Nas lendas, eles apenas exterminavam
os primeiros vampiros. Você pode ser um filho legítimo da Lilith. O nosso guia,
o nosso mestre que veio para liderar e proteger os vampiros.
–
Olha. Isso me parece um absurdo. Eu nem sei muito sobre vampiros e...
Quando levantei as mãos todas às
lâmpadas da casa noturna estouraram. Nos meus dedos existiam raios elétricos.
Eu apontei para uma cadeira e ela explodiu como se um raio a tivesse atingido.
Jasmine
apontou para mim e disse:
–
Ele é o mestre. Eu disse. Ele veio para nos ajudar. Ele é o líder que tanto
procurávamos.
Raquel
veio até mim e olhou para os meus olhos.
–
Sim, Mestre. Eu irei protegê-lo. Serei a sua guerreira. Serei a sua mão
direita. Sua gladiadora, a sua mais poderosa arma e o mais desejado amor. Serei
sua como e quando desejar.
Eu
a abracei e disse:
–
Eu nunca ouvi essas palavras de mulher alguma e nunca achei que um dia iria
ouvir algo assim. Para mim, esse tipo de mulher nunca existiu.
–
Acredite, meu mestre. Eu serei esta mulher.
Uma
explosão nos pegou de surpresa. Fomos jogados nas paredes do local. Quando a
poeira abaixa, vejo alguns homens bem na minha frente. Um deles agarra meu
pescoço e me joga novamente até bater em uma parede. Eu olhava em volta e via
que eu estava só. Todos haviam desmaiado. Foi quando ouvi o que parecia ser o
líder dizer:
–
Então você é a reencarnação do Mestre dos vampiros? – ele ria sem parar e os
outros que estavam com ele, uns três homens também riam.
–
Se sou o mestre de todos os vampiros isso eu realmente não sei, mas posso
destruir facilmente todos vocês. – é claro que eu estava blefando. Sabia muito
pouco dos meus novos poderes e eles tinham experiências de milhares de anos.
Dois
deles me seguram e me levam para fora. Jogam-me na rua como se eu não fosse
nada.
O
líder levanta um carro e joga em minha direção. Fecho os olhos e tento me
proteger com as mãos quando vejo que o carro parou em pleno ar. Levanto-me e
deixo todos impressionados. Mas o líder não queria perder tempo. E pronunciou:
–
Ele aprendeu seus poderes muito rapidamente. Destruam-no!
Os
dois vampiros arrancaram um poste e os fios explodiram com a alta tensão. Passaram
os fios elétricos sobre meu corpo, mas isso só me deixava mais forte. Eu os
tocava e eles sentiam a eletricidade do meu corpo. Os dois queimaram em minhas
mãos.
Um dos vampiros que estava com
eles voou para longe e enquanto o líder o chamava de covarde eu o agarrei pelo
pescoço. Mas a energia que ele tinha era forte e me jogou novamente para longe.
De
suas mãos saiam raios. Eu corri o máximo que pude. Senti cada rajada em minhas
costas. Sentia o cheio de queimado. Sabia que não iria aguentar por muito
tempo, então resolvi atacar com todas as forças que eu tinha. Eu o agarrei e
segurei o máximo que pude. Seu corpo me queimava, mas logo senti que ele também
estava enfraquecendo e gritava:
–
Não! Eu sou mais forte! Eu tenho mais experiência.
Mesmo
assim ele fraquejava até que ele derreteu em meus braços.
Corri
para dentro da casa noturna e carreguei a Raquel e a Jasmine para fora.
Logo
que elas se recuperaram, me chamaram de Mestre e que agora o mundo tem um novo
vampiro, um líder que irá levá-los para continuar o nosso legado.
–
Qual é a nossa próxima missão, meu senhor? – dizia a Raquel, sorridente.
–Bem!
Vamos nos abrigar, pois o Sol já mostra os seus primeiros raios! E... Quando
chegar o momento... Uma adorável noite virá... E nossos irmãos conhecerão a
nossa força, a nossa natureza e juntos...
–
Seremos imortais!
* Conto publicado originalmente no blog Contos de Vampiros e Terror (https://contosdevampiroseterror.blogspot.com)
em 2015.