15 de out. de 2021

A PRATA DA CASA

 

Por Adriano Siqueira

             

            No bairro do Capão do imbuia em Curitiba-PR, Franciele e Loberval, um casal muito apaixonado conversavam no café da manhã.

            ─ Querido. Já coloquei o seu almoço na sua pasta. Gostou dos meus bolinhos de chuva?

            ─ Eu sempre vou amar seus bolinhos querida. Devo voltar tarde hoje. Tenho reunião.

            ─ Eu entendo querido. Mas fico triste quando você está fora. Eu vou limpar a casa toda. Tem muita poeira. Ai...

            Loberval vê que Franciele coloca a mão na cabeça e se senta.

            ─ Tem tomado os remédios?

            ─ Sim. Mas cada dia as dores aumentam e os pesadelos...

            ─ Não se preocupe. Trarei mais remédios hoje. O hospital está lotado. Muita gente doente.

            ─ Você é o médico que mais amo nesse mundo.

            Eles se beijam e Loberval vai para o hospital trabalhar. Enquanto isso. Franciele arruma a casa. Abre o sótão, acende a luz e desce as escadas vagarosamente. Passa pelo espelho, que é do tamanho do seu corpo, olha para os lados. Ela vê que tem muito trabalho para fazer, mas sente uma leve pontada na cabeça. Uma dor aguda.

            Franciele passa pelo espelho e percebe algo estranho. O seu reflexo. Não era ela. Era outra mulher. Ela tenta se afastar mas o reflexo segura a sua mão. Franciele fica apavorada. Ela tenta gritar mas o reflexo coloca a mão na sua boca e começa a falar.

            ─ Ele matou nós duas e vai fazer isso de novo se desconfiar.

            Franciele é libertada e ela olha para a mulher. Começa a reconhecer o seu rosto.

            ─ Georgia. seu nome é Georgia.

            ─ Sim. Finalmente. Então você está lembrando quem somos Franciele?

            ─ Os pesadelos. Horríveis. Morte, corpos, Sangue.

            ─ Loberval nos matou. Éramos enfermeiras desse hospital. Ele queria você, mas você me amava e ele me matou.

            ─ Não! Somos casados faz muito tempo. Ele não faria isso é um médico bom ele junta as partes dos corpos. Ele religa os membros. Ele...

            ─ É um assassino. Me matou e vc me viu toda desmembrada aqui no sótão e quando vc ia avisar a policia ele te matou também.

            ─ Eu estou louca. Estou enlouquecendo. Vou ligar para ele.

            ─ Não! Hoje ele não voltará cedo. É noite de Lua Cheia. Ele adora retalhar corpos.

            ─ Georgia! Eu não sei o que fazer.

            ─ Ele retalhou nossos corpos. Levou para o hospital. Remendou nos duas. Ele fez uma nova mulher com a gente. Veja as cicatrizes no seu corpo todo. Nós somos o seu brinquedo.

            ─ O que vamos fazer?

            ─ Prata. Muita prata. Reunir tudo aqui deixar bem espetado e jogar ele aqui dentro.

            ─ Mas ele é forte Georgia. Estou com medo.

            ─ Nos também somos fortes. Quando passar os efeitos dos remédios que ele te dá, vai ver o quanto temos poder.

            ─ Não dá para acreditar que um homem possa ser tão cruel.

            ─ Tenta levantar aquela lavadora de roupas de ferro.

            Franciele vai até a maquina e ri. Sabe que é pesada demais. Mesmo assim ela tenta por brincadeira. E consegue ela levanta muito alto.

            ─ Joga no Chão de madeira. Vamos fazer um grande buraco.

            Franciele joga a maquina com força e abre um grande buraco no chão. Ela olha para as suas mãos e fica impressionada.

            ─ Sou mesmo forte.

            ─ Somos. Agora vamos vc precisa arrumar toda a prata e jogar aqui. Cobrir o buraco e matar o lobo mau.

            ─ Você vai comigo Georgia?

            ─ Ele ligou nossos cérebros. Estou dentro de você. Está com meus seios, minhas mãos, meu nariz e minha vida. Somos um e vamos mandar ele para o inferno.

            Elas pegam tudo que é de valor na casa e recolhem em vários lugares, todo o tipo de prata. Conseguem um bom material para fazer a armadilha.

            Até as dez horas da noite de lua cheia elas conseguiram montar a armadilha. Franciele conseguiu fazer lâminas cortantes em todas a pratas que pegou. A força que tinha, a prata em suas mãos eram como massa de modelar. Depois colocaram o tapete e cobriram o buraco.

            ─ Pronto Georgia. Agora é só esperar o Doutor Frankenstein chegar.

            ─ Seis meses ele conseguiu nos enganar. Mas esse assassino vai ter o que merece.

            ─ Ele disse que minhas cicatrizes eram de um acidente de infância.

            ─ Vamos ficar juntas para sempre.

            Franciele coloca a mão no seu coração.

            ─ Eu te amo Georgia.

            ─ Eu também Franciele.



Arte Original: Maria Ferreira Dutra
Edição de Imagem: André Bozzetto Jr

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