10 de jul. de 2021

APOIO CULTURAL

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5 de jul. de 2021

ELE CHEGA COM A NOITE

 

 Por André Bozzetto Junior

 

            A maioria das casas existentes naquele bairro eram consideravelmente antigas. Em especial, aquela para a qual Maria tinha acabado de se mudar havia sido construída em meados da década de 1970, mas se encontrava em excelente estado de conservação. Além disso, era grande, com três quartos, duas salas, uma ampla cozinha e um belo quintal, onde haviam várias árvores frutíferas. E o mais surpreendente: o aluguel custava uma ninharia. Apenas um terço a mais do que ela costumava pagar por um apartamento minúsculo e desconfortável que ficava em um prédio decadente de um bairro no extremo leste da cidade. Agora ela e a filha adolescente poderiam viver de forma bem mais tranqüila e confortável. E nos finais de semana, quando o marido caminhoneiro voltasse de suas viagens habituais, eles poderiam até mesmo fazer churrasco no quintal.

            – Não entendo como podem existir tantas casas vazias nessa rua. – disse Maria – Elas são ótimas e o aluguel é bastante em conta.

            – O problema é que elas são antigas. – respondeu Paulo, o agente imobiliário – E a senhora sabe como são as pessoas hoje em dia: querem tudo novo, tudo moderno. Gostam tanto das frescuras da moda que desvalorizam as coisas boas do passado, como as casas dessa rua.

            – Pois para mim elas são ótimas! – retrucou Maria, com um sorriso satisfeito nos lábios.

            – Eu também adorei! – complementou Magda, a filha.

            – Pois então aproveitem! – disse Paulo, apertando a mão de Maria – E se precisarem de qualquer coisa, é só ligar para a imobiliária. Aliás, eu moro a três quarteirões daqui. Faço questão de vir sempre que for preciso.

            Em seguida, o agente imobiliário se despediu e foi saindo, mas não sem antes dar uma boa analisada em Magda, observando-a dos pés a cabeça. Sua atitude foi um tanto indiscreta e a garota, percebendo a malícia no olhar do homem, enrubesceu. Apenas Maria não percebeu nada, de tão maravilhada que estava observando cada detalhe da casa. “Espere até o final de semana, quando o seu pai chegar!”, dizia ela. “Ele vai adorar essa casa!”.

            Por volta das 23 horas, Magda já estava na cama, pois na manhã seguinte teria que ir para a escola. Embora tivesse que levantar ainda mais cedo do que a filha para ir trabalhar, Maria permanecia de pé, curtindo a primeira noite na nova casa. Ela havia acabado de colocar um bule com água para aquecer no fogão e estava procurando a camomila para o seu chá, quando um grito de terror ecoou no interior da residência. Maria reconheceu de imediato a voz da filha, e correu estabanadamente até o quarto dela. Quando abriu a porta, teve a visão mais terrificante de sua vida.

            Magda se encontrava sentada na cama, gritando e chorando desesperadamente, enquanto olhava na direção da janela, através da qual uma criatura enorme e horrenda tentava entrar. O monstro já havia removido a veneziana de madeira, quebrado um vidro da parte interna da janela e, com sua mão peluda e robusta, onde se destacavam as garras afiadas, ele tentava remover o trinco que o mantinha do lado de fora. Maria logo percebeu que seria apenas uma questão de tempo até a criatura conseguir entrar, pois mesmo que ela não conseguisse abrir o trinco, não teria maiores dificuldades para despedaçar a janela com quatro ou cinco golpes.

            Apavorada, a mulher puxou a filha pela mão e correu de volta para a cozinha. Seu primeiro impulso foi de sair gritando por socorro na rua, mas logo ela se deu conta de que não havia vizinhos próximos e que certamente o monstro as alcançaria antes que pudessem avançar algumas dezenas de metros. Pensou em pegar uma faca para tentar algum tipo de defesa desesperada, mas então seus olhos encontraram o bule cheio de água fervente sobre o fogão. Ela estava disposta a qualquer coisa para salvar sua vida e principalmente a da filha, de modo que não hesitou: pegou o bule e se dirigiu de volta ao quarto de Magda.

            Quando atravessou a porta, Maria viu que o monstro já tinha conseguido abrir também a parte interna da janela, de forma que já estava com a cabeça, os braços e metade do corpo para dentro do quarto. Ele olhou para a mulher com seus enormes olhos vermelhos e reluzentes e uma macabra excitação pareceu transparecer em sua face horrenda. Nesse momento, Maria se aproximou corajosamente e, com um único movimento, arremessou toda a água fervente de encontro à face da criatura. Urrando de dor e ódio, o monstro retrocedeu desengonçadamente e saiu correndo em busca do abrigo acolhedor das sombras da noite. Sob a luz da lua cheia, Maria pode ver que, embora as características corporais da criatura lembrassem algo similar a um lobo de cerca de dois metros de altura, ela corria apoiada apenas nas pernas traseiras, com movimentos muito semelhantes aos de um ser humano.

            Na manhã seguinte, Maria não foi trabalhar e Magda não foi para a escola. Só saíram de dentro de casa para ir até o telefone público mais próximo. Elas sabiam que seria inútil relatar o ocorrido para a polícia ou para qualquer outra pessoa. Certamente, ninguém acreditaria em histórias de lobisomens. Assim, ligaram apenas para a imobiliária, com a intenção de pedir para Paulo devolver o dinheiro do aluguel que havia sido pago adiantado, pois pretendiam ir embora o quanto antes pudessem. Contudo, a secretária da imobiliária disse que Paulo não havia ido trabalhar, apenas ligara dizendo que iria ao médico. Porém, a funcionária se prontificou a entrar em contato com o agente imobiliário e pedir para que ele fosse até a casa de Maria tão logo possível. Sem outra alternativa, só lhes restou concordar.

            Maria e Magda passaram o dia apreensivas, intercalando olhares para o relógio e para a rua, esperando pela chegada de Paulo e pela subsequente oportunidade de ir embora daquela casa e daquele bairro, que já não lhes despertavam nenhum outro sentimento além do medo. Quando começou a entardecer, as duas se deram conta de que talvez o agente imobiliário não viesse mais e, consequentemente, elas teriam de passar mais uma noite na casa, pois não tinham outro lugar para ir. Rapidamente, começaram então a improvisar formas de reforçar as portas e janelas, para o caso de o monstro decidir voltar.

            Já havia escurecido completamente quando alguém bateu na porta. Apreensiva, Maria perguntou quem era antes mesmo de se aproximar da maçaneta.

            – Sou eu, Paulo. – respondeu a voz vinda do lado de fora.

            Tomada pela esperança, Maria destrancou rapidamente a porta e abriu-a para receber o agente imobiliário. Porém, a visão que teve deixou-a tão espantada que, instintivamente tentou fechá-la novamente. Mas não foi possível. Paulo escorou a porta com uma das mãos e com a outra deu um safanão em Maria, fazendo-a cambalear para dentro. Em seguida, ele entrou e girou a chave detrás de si.

            Paulo estava com o rosto quase que completamente coberto por ataduras, permanecendo de fora apenas os olhos e a boca. Pelas frestas entre as faixas, Maria e Magda puderam ver que a pele do rosto do homem estava desfigurada por queimaduras.

            – Sua vadia desgraçada! – gritou Paulo, com um tom de voz cavernoso e amedrontador – Veja o que você fez com o meu rosto!

            O homem então começou a remover as ataduras de sua cabeça, e a revelação do que havia por detrás delas fez com que Maria e Magda ficassem paralisadas de horror e repulsa. Além da pele queimada e purulenta, a face de Paulo apresentação outras anomalias, como o nariz retorcido para frente, os ossos das maçãs do rosto dilatados e espessos tufos de pelos negros que emergiam de seus poros disformes. Ele estava se transformando em um monstro.

            – Eu queria apenas a sua filha! – vociferou aquele horrendo ser que já não se parecia mais com Paulo – Mas agora terei prazer em comer você também!

            Na sequência, as roupas que o homem vestia se rasgaram e desapareceram daquele corpo junto com os últimos vestígios de humanidade. Coberto por uma pelagem negra e opaca, a criatura se aproximou das duas apavoradas mulheres escancarando sua enorme bocarra repleta de presas longas e afiadas e emitindo um urro ensurdecedor. Encurraladas, as duas se agacharam junto à parede, cobrindo os olhos com as mãos e esperando pelo pior. Ironicamente, o último pensamento lúcido que passou pela mente de Maria foi a compreensão de que não eram as casas antigas que afastavam os moradores daquela rua, mas sim aquela coisa que estava diante dela, igualmente antiga, mas infinitamente pior.

            Durante aquela noite, gritos de dor e agonia ecoaram pela rua, acompanhados de urros monstruosos que denotavam ódio e satisfação. Porém, não havia vizinhos próximos para escutá-los e os que moravam mais distantes não ouviram nada. Ou, se ouviram, por medo fingiram não ouvir.

3 de jul. de 2021

2 de jul. de 2021

EUGÊNIA

 

 

Por Maria Ferreira Dutra

 

            Campos dos Goytacazes, município do Rio de Janeiro. 

 

            Elizabeth Petkovic, uma menina de apenas 14 anos, deixou a população do vilarejo onde morava aterrorizada. Segundo relatos, depois de sua morte, as pessoas a ouviam chamar pelos seus nomes e alguns inclusive reportaram aparições.

            Todos começaram a acreditar que Beth, como também era conhecida, teria sido uma bruxa.

            Sete dias após a sua morte, seu corpo foi exumado, e para a surpresa de todos os presentes, havia uma estaca cravada em seu estômago. As pessoas ficaram sem entender porque esse era um artifício usado para matar vampiros e ali naquela cidade ninguém nunca havia ouvido falar em ataques de vampiros. E pelo que se sabe, Beth havia morrido de raiva. Seria Beth uma vampira? O povo começou a se questionar.

            A dúvida passou a ser uma certeza quando a defunta abriu os olhos, sentou-se e soltou uma gargalhada, apavorando a todos. Vagarosamente Beth saiu do túmulo e pôs todos para correr dizendo que estava com sede de sangue. 

            A partir desse dia suas aparições se tornaram mais frequentes e violentas, além de se alimentar do sangue de suas vítimas, Beth as enterrava vivas, de cabeça para baixo, com o corpo de fora. Em seguida, cravava suas enormes unhas em seus peitos e os abria arrancando seus corações e comendo-os.

            Para por um fim nas ações da vampira, os moradores do vilarejo planejaram uma emboscada. Colocaram um boneco sentado em frente ao cemitério como isca e o lambuzaram com sangue humano.

            Ao anoitecer, Beth desperta do seu sono e sente o cheiro forte de sangue. Ela vai em direção ao seu alimento e se aproximou de sua próxima vítima. Beth cheirou, cheirou, parecia desconfiada, olhava de um lado para o outro como se sentisse observada. Mas a sua fome era grande e quando se sentiu segura, tirou o cachecol do pescoço da sua presa e estava prestes a atacar quando foi surpreendida pelos moradores que estavam a espreita aguardando um momento de distração da vampira.

            Sem piedade e chance de reação, os moradores armados com estacas afiadas perfuraram todo o corpo da vampira, para que não houvesse chance de sobrevivência. Por fim, um rapaz, que havia perdido o pai assassinado pela vampira, tomado pelo ódio pegou um facão e a decapitou. O povo então a esquartejou e queimaram as partes do seu corpo em quatro fogueiras, pois tinham medo de colocá-las numa única fogueira e seu corpo se reconstituir novamente.

            Enquanto as pessoas observavam partes do corpo da vampira ardendo nas chamas, em uma das fogueiras, a cabeça da vampira de repente saiu rolando em direção às pessoas, parou e abriu os olhos. Em seguida, soltou uma risada medonha, de congelar a espinha. Todos se afastaram com medo, mas um senhorzinho, de uns setenta anos, pegou o primeiro pedaço de pau que encontrou pela frente e o cravou nos olhos da vampira. Após a cabeça estar devidamente empalada, a colocou de volta ao fogo.

            Ninguém quis arredar o pé, todos ficaram esperando a fogueira se apagar, queriam ter certeza de que era o fim definitivo da vampira Beth. E quando a última labareda se apagou, gritos de vitória foram ouvidos por todos os lados. 

            Na manhã seguinte, quando o serviçal do cemitério foi limpar o que havia sobrado da fogueira, para sua surpresa, não havia vestígio de nada, nenhum sinal de cinza, apenas uma frase escrita no chão: Eugênia, eu habito em você.

            A partir desse dia, todas as Eugênias passaram a ser prosseguidas e quando capturadas eram terrivelmente assassinadas. Mas ninguém nunca soube qual delas a vampira havia possuído, e na verdade, a Eugênia vampira ainda estava para nascer.

            Durante o ataque à vampira na porta do cemitério, havia uma mulher grávida entre a multidão, chamada Soraia. Soraia também estava movida pelo medo e pela raiva e assim como os demais moradores apunhalou a vampira com toda fúria. Só não esperava o que viria a acontecer, o sangue de Beth esguichou em seus olhos. Durante muito tempo ela ficou preocupada em se transformar em vampira também, o que a levou a se mudar para uma outra cidade, bem distante.

            Soraia teve a sua filha na nova cidade, e tudo transcorreu bem e a transformação que ela temia nunca ocorreu. Mais tarde, sua filha se casou e veio a engravidar. Em homenagem a sua tia, que fora morta pelas autoridades da cidade de Campos dos Goytacazes, por motivo que sua mãe nunca lhe contou, colocou o mesmo nome em sua filha: Eugênia.

28 de jun. de 2021

LOBOS DO SUL - Novo livro sobre lobisomens de André Bozzetto Jr

 

 

Dez anos após a dobradinha Na Próxima Lua Cheia e Jarbas, publicados pela editora Estronho, estamos de volta com um novo livro de lobisomens intitulado Lobos do Sul, dessa vez lançado de forma independente através de nosso próprio selo, o Relatos Noturnos. O livro já está disponível em ebook Kindle na Amazon e na data de hoje (28/06/2021), apenas cinco dias após ser disponibilizado na plataforma, já está entre os 10 mais vendidos na categoria Terror.

 

O livro possui capa de Andrei Bressan e ilustrações internas de Ivan Lima. Saiba mais sobre eles abaixo.

 

Para quem quiser adquirir o livro autografado e com lobby cards exclusivos de brinde por apenas R$ 30,00 (20% mais barato do que nas livrarias) com + R$ 7,00 de frete para qualquer cidade do Brasil, pode entrar em contato com o autor por E-mail - bozzettojunior@yahoo.com.br ou por mensagem no Facebook neste perfil AQUI ou no Instagram - @andrebozzettojr. 

 

Para quem preferir o ebook Kindle da Amazon, pode comprar clicando AQUI.

 

O livro também está disponível em formato impresso no Clube de Autores e pode ser adquirido neste link AQUI.

 

 No site da Estante Virtual o livro também já está à venda na forma impressa. Se preferir comprá-lo lá, pode clicar AQUI.

 

Se o seu negócio é comprar nas grandes livrarias, temos a opção da Amazon AQUI, do Submarino AQUI, ou das Lojas Americanas AQUI.

 

Sinopse:

Em uma fria noite de lua cheia, um grupo de amigos rememora o ciclo de terror e tragédia que banhou de sangue a pequena comunidade onde viviam quando eram adolescentes, em meados de década de 1990. 

Entre narrativas pontuadas por violência e pavor, em que pessoas comuns se veem diante de criaturas vorazes e hediondas, mistérios precisam ser desvendados e monstros confrontados.

Passados quase vinte anos, ainda existem perguntas a serem respondidas... e talvez ainda haja algo ameaçador lá fora, espreitando na escuridão. 

Uma história de lobisomens do mesmo autor de Jarbas e Na Próxima Lua Cheia. Ilustrações de Ivan Lima.

 

Ficha Técnica:
Título: Lobos do Sul
Autor: André Bozzetto Jr
Ilustração de Capa: Andrei Bressan
Ilustrações Internas: Ivan Lima
Ano: 2021
Editora: Relatos Noturnos (selo independente)
Edição: 1ª
Páginas: 160 (formato pocket)
ISBN: 978-85-471-0385-9
 

André Bozzetto Jr é natural de Ilópolis – RS e reside atualmente em Pinhalzinho – SC, onde trabalha como professor na Educação Básica e no Ensino Superior. Graduado em História e Mestre em Letras, teve sua iniciação na arte da escrita no ano de 1998, com a publicação do romance sobrenatural "Odisseia nas Sombras". Abordou a figura mítica do lobisomem nos enredos dos livros "Na Próxima Lua Cheia" (2010), "Jarbas" (2011), "Lobos do Sul" (2021) e também em diversos contos publicados em antologias de literatura fantástica, como "Metamorfose – A Fúria dos Lobisomens" (2009), "Draculea II – O Retorno dos Vampiros" (2010), "Extraneus II – Quase Inocentes" (2011), "Cursed City" (2011) e "Amor Lobo" (2013). Em 2012 também publicou o suspense intitulado "O Inimigo Final". Atualmente, mantém o blog Relatos Noturnos (relatosnoturnos.com), onde publica contos de sua autoria e de escritores convidados, resenhas e matérias sobre filmes, histórias em quadrinhos e livros de terror nacionais, além de entrevistas com diversos artistas do gênero.

Andrei Bressan é quadrinista profissional, tendo em sua carreira trabalhos para a DC Comics e Image Comics, onde desenhou personagens como Batman, Monstro do Pântano, Lanterna Verde e Esquadrão Suicida (DC) e a série Birthright (Image). Além de “Lobos do Sul” (2021), desenhou também as capas de “Jarbas” (2011) e “Na Próxima Lua Cheia” (2010), bem como as ilustrações internas deste último.

 

Ivan Lima é um dos quadrinistas de terror mais prolíficos e elogiados da atualidade, marcando presença nas páginas da maioria das edições contemporâneas das clássicas revistas “Calafrio” e “Mestres do Terror”, editadas pela Ink&Blood Comics.