3 de jan. de 2021

20 KM PARA O INFERNO

 

Por André Bozzetto Junior

            Pois então, se você gosta de causos de assombração e coisas do outro mundo, vou lhe contar essa história. Peça mais um cerveja e sente. Mas, já vou avisando: se me chamar de louco ou de bêbado, eu meto a mão na sua cara! Se você quiser duvidar, o problema é seu, provavelmente eu também duvidaria se me contassem, mas garanto que é verdade, tudo verdade!

            Você sabe onde fica Ilópolis? Então, naquela época eu estava trabalhando lá, em uma madeireira. Era minha segunda semana no emprego, quando, em uma sexta-feira de tarde, o patrão me chamou na sala dele. Disse que tinha um cara aqui na cidade de Encantado que estava interessado em levar a caminhonete F-4000 da empresa para revender em Porto Alegre. Pelo que o patrão falou, parecia um ótimo negócio, mas tinha um problema: a caminhonete teria que ser levada até Encantado ainda naquela tarde, pois o cara iria para Porto Alegre no dia seguinte, bem cedo... E ninguém, nenhum funcionário da empresa queria fazer isso! Lhe digo que essa história se passou há uns vinte e cinco anos atrás, e naquela época não havia asfalto de Encantado até Ilópolis. Estavam apenas começando a providenciar as obras e a estrada estava horrível! Eram mais de 50 km de buracos, pedregulhos e muita poeira! E, como você sabe, boa parte do trajeto é feita através do Morro da Guabiroba, com apenas mato dos dois lados da estrada, o que torna as coisas ainda piores.

            Porém, o chefe foi gente fina comigo e me disse a verdade: o pessoal não estava fugindo da viagem só por causa dos transtornos da estrada, mas também porque estavam com medo de umas histórias que andavam circulando. Diziam que pessoas estavam desaparecendo ao andar de noite por aquela estrada, que muitos tinham avistado coisas esquisitas e assim por diante. Eu disse que isso era conversa fiada de gente ignorante e que eu não tinha medo de nada. Aceitei prontamente a tarefa, até porque, adorei a ideia de poder passar a noite em Encantado, sabendo que havia ótimas boates como esta aqui. Já que eu não estava arrumando mulher nenhuma por lá, queria mais era aproveitar para tirar o atraso! O que você disse? Claro, pode pedir mais uma cerveja!

            Então, quando era lá por 17 horas, eu embarquei na caminhonete e parti. Antes disso alguns colegas de trabalho ainda tentaram me convencer a não ir, dizendo que era noite de lua cheia e que eu podia encontrar alguma aparição pelo caminho. Eu dei risada da cara deles, disse que era muito macho e não tinha medo de alma penada. E assim fui.

            Fora a péssima estrada, não estava acontecendo nada de especial até um pouco depois da entrada que segue para o município de Anta Gorda. Quando passei por lá, avistei um velhote moreno e baixinho pedindo carona. Parei, ele me perguntou se eu iria até Encantado e quando eu respondi que sim ele já foi subindo na caçamba da caminhonete e acendendo um cigarro de palha. Então, nem convidei ele para entrar na cabine e deixei que ficasse lá em cima.

            Quando cheguei à Cordilheira, já estava entardecendo e perto do terreno onde ficavam as máquinas usadas nas obras para a futura construção do asfalto, tinha outro indivíduo pedindo carona. Eu parei, ele agradeceu e, como viu o velhote na caçamba, deve ter deduzido que ali era o lugar dos caroneiros e subiu também. Pelo retrovisor, percebi que o velho não gostou do sujeito, pois não o cumprimentou e ficou olhando para ele com cara de desconfiando. Não dei maior importância, pois o fulano era mal encarado mesmo, embora o velho também fosse bem esquisito. Achei normal que se estranhassem. Quer um cigarro? Pegue um aqui dos meus. Vou encher nossos copos!

            Depois disso a viagem seguiu tranquila por mais um tempo. A única coisa estranha que eu reparei foi que, durante todo o trajeto, não cruzei por nenhum outro veículo. Parecia que só eu estava transitando por aquelas bandas. Além disso, sempre que eu passava na frente das raras casas à beira da estrada, os moradores ficavam olhando com caras assustadas. Crianças desconfiadas espiavam pelas janelas, e uma velha chegou até a fazer o sinal da cruz e apontar para o lado contrário, como se estivesse sugerindo que eu devia voltar. Confesso que fiquei com a pulga atrás da orelha, mas segui em frente.

            Começado a descer o Morro da Guabiroba, já estava quase escuro, e foi quando dois garotos apareceram na beira da estrada, gesticulando feito loucos e quase se atirando na frente da caminhonete. Eu parei e eles correram até a minha janela praticamente implorando por carona. Eu estranhei, pois tive a impressão de que eles estavam subindo o morro, e não descendo. De qualquer forma, mandei que pulassem na caçamba e segui viagem. Achei bem estranho, mas eram apenas garotos de dezesseis ou dezessete anos e você sabe que nessa idade a gente costuma ser meio besta. Garçonete, traga mais uma cerveja! Depressa!

            Bem, uns dez minutos depois de eu ter pegado os dois garotos, avistei na beira da estrada uma loira muito gostosa! Eu logo deduzi que devia ser uma quenga, pois, você sabe, elas se vestem de um jeito inconfundível, não é mesmo? Basta olhar para essas mulheres aqui na boate para entender do que eu estou falando. Então, parei imediatamente e abri a porta, mandando ela entrar na cabine. Já que a caminhonete estava virando um ônibus grátis, pelo menos que a gostosa ficasse do meu lado!

            Quando ela entrou, percebi que estava meio abatida, com as roupas sujas e até fedendo um pouco. Perguntei o que ela estava fazendo sozinha naquela estrada deserta e então ela me contou tudo. Admitiu logo de cara que era garota de programa, e adivinhe em qual boate ela trabalhava?! Isso mesmo! Nesta aqui onde estamos! Ela disse que estava muito bêbada na noite anterior e que tinha saído com dois caras. Eles foram de carro até aquele local, fizeram o serviço com ela e depois, ao invés de pagarem e levarem ela de volta, acabaram lhe dando uns bons tabefes e deixando-a atirada no mato. Pelo menos era isso que a quenga achava que tinha acontecido, porque estava bêbada demais na noite anterior e nem se lembrava direito. Podia ser a que a história não tivesse sido bem assim. Não sei por que, pensei nos dois garotos que estavam na caçamba e pedi para ela dar uma olhada neles. Disse que não tinha condições de se  lembrar da cara deles mesmo que quisesse.

            Eu fiquei desconfiado, e como estava dirigindo bem devagar por causa dos buracos na estrada, abri o vidro da janela traseira da cabine e comecei a puxar conversa com os garotos. Eles contaram que estudavam no colégio agrícola de Bento Gonçalves e estavam indo para Ilópolis só na base da carona, onde iam passar o final de semana. Tudo correu bem até aquele ponto da estrada, onde eles acabaram ficando empacados, tendo esperado horas e horas sem que passasse carro algum para lhes dar carona. As únicas pessoas que eles avistaram naquele meio tempo foi um casal de colonos que cruzou por ali de carroça e disse para que eles se mandassem antes de escurecer, pois “coisas terríveis” poderiam acontecer quando a noite chegasse. Eram as tais histórias de assombração de novo. Os dois moleques ficaram tão assustados que, quando me viram, decidiram pegar carona de qualquer jeito, mesmo que fosse para o lado contrário de onde pretendiam chegar. Qualquer coisa para não ficar na estrada deserta durante a noite! É claro que eu achei aquela história bem estranha, mas acreditei, pois, você sabe, quando eu tinha a idade deles também fazia coisas idiotas como aquela. Garçonete! Cadê a nossa cerveja, porra?!

            Bem, como eu já estava ficando de saco cheio daquela história toda, aproveitei para tirar um sarro da cara dos moleques e disse que eles eram muito cagões para acreditar em causos de alma penada. Foi aí que o velhote se intrometeu na conversa e disse que eles fizeram bem em ter acreditado, pois coisas muito macabras andavam acontecendo por aquelas bandas e todos os moradores da região estavam apavorados. Como eu não estava a fim de discutir com o caipira, fechei a janela e foquei na loira. Disse para ela que, depois de entregar a caminhonete em Encantado, iria até a boate onde ela trabalhava e teria prazer em lhe pagar umas cervejinhas geladas. Ela gostou da conversa, tanto que colocou a mão no meu colo e começou a apalpar a minha perna. Quero dizer, não foi bem a perna que ela começou a apalpar. Você entende, não é mesmo?!

            Porém, no momento em que as coisas estavam ficando boas para o meu lado, foi justamente quando o inferno começou! Faltavam ainda uns 20 km para chegarmos em Encantado e a lua cheia já começava a aparecer por detrás dos morros. A loira então ficou agitada, suando e parecendo que iria ter um chilique. Perguntei se ela estava bem, e foi aí que ela me contou que estava se lembrando de algo que aconteceu na noite anterior. Ela não tinha certeza se tinha acontecido mesmo ou se ela estava sonhando ou apenas doidona de cachaça, mas disse que teve a nítida impressão de que, enquanto estava caída lá no mato, depois de ter apanhado dos sujeitos desconhecidos, apareceu alguém e fez algo com ela. Não deu detalhes, mas certamente não era nada de bom, não é mesmo?!

            Eu já estava pronto para perguntar se ela estava chapadona ou ficando louca de verdade, quando levei um dos maiores sustos da minha vida. Meu amigo, acredite em mim, pois é a mais pura verdade! Olhei para a cara da loira e o meu coração quase parou! Aquilo não era mais cara de gente! Estava se transformando na cara de um bicho, com dentes enormes e pêlos por todos os lados! A mão dela, que estava no meu colo, tinha virado uma coisa horrível, com unhas grossas e afiadas! Não tenho vergonha de admitir que fiquei desesperado e comecei a gritar feito um louco, sem saber se dirigia ou tentava me livrar daquela coisa que urrava feito um demônio dentro da cabine. Como ela partiu pra cima de mim, tirei o pé direito do acelerador o comecei a chutar a cara dela, tentando afastar. Como você sabe, seria impossível fazer isso e dirigir ao mesmo tempo, tanto que acabei perdendo o controle da caminhonete, que saiu da estrada e bateu em um barranco.

            Eu escutei a gritaria do pessoal que estava na caçamba, mas não pude fazer nada, pois a coisa estava me atacando. Quando já estava acreditando que aquilo iria dar um jeito de me matar, percebi que a porta do lado do lado direito foi aberta e a coisa foi puxada para fora. Logo depois, escutei o estrondo de um tiro e os urros daquele demônio pararam.

            Quase me cagando de medo, pulei pra fora da cabine a tempo de ver os dois garotos correndo estrada afora desesperadamente e o segundo caroneiro parado com uma cara de apavorado. Mesmo com receio, dei a volta na caminhonete e vi o velhote com um revolver na mão olhando para a mulher morta estendida no chão. “Essa aqui não ataca mais ninguém!”, disse ele. Quando eu perguntei que porra era aquela o velhote disse que era um lobisomem! Isso mesmo, um lobisomem! Foi então que ele contou tudo. Falou que os moradores da região já sabiam que se tratava de um lobisomem que andava tocando o terror nas redondezas, pois muitos anos atrás um outro já havia aparecido por aquelas bandas. Então eles se reuniram e encomendaram balas de prata e começaram a andar armados nas noites de lua cheia, na expectativa de cruzar com o monstro.

            O velho disse também que a quenga não poderia ser o demônio que andava atacando por lá, pelo simples fato de que ela não era da região e os ataques eram bem localizados, como se o monstro conhecesse perfeitamente os arredores. O outro caroneiro se aproximou então e perguntou como seria possível uma coisas dessas. Eu me lembrei do que a loira havia me contado antes de se transformar naquilo, e disse que ela poderia ter sido mordida pelo outro monstro enquanto ficou apagada na noite anterior, ou algo assim. Naquela altura, eu já estava acreditando em qualquer coisa! Incrível como tudo aquilo que a gente pensa que é real pode mudar de uma hora para a outra, não é mesmo?!

            Perguntei então para o velho se ele ou alguém das redondezas tinha desconfiança de quem poderia ser o tal lobisomem e ele disse que suspeitavam que pudesse ser alguém da equipe de trabalhadores da concessionária encarregada de construir o asfalto, pois as aparições começaram mais ou menos na mesma época em que as obras iniciaram. Foi aí que o outro caroneiro começou a xingar o velho. Disse que ele próprio era funcionário da concessionária, que conhecia todos os colegas e tinha certeza que nenhum deles tinha envolvimento com isso. Contou também que alguns companheiros já tinham avistado o suposto monstro e por isso mesmo todos se mandavam mais cedo quando sabiam que haveria noite de lua cheia.

            Eu já estava pronto para perguntar o que faríamos com o corpo da mulher, quando ouvimos uma gritaria dos infernos vindo da parte alta da estrada. Percebi logo que eram vozes de garotos e só então me lembrei da dupla de patetas que havia saído correndo lá para cima quando a caminhonete bateu no barranco. Estava claro que naquele momento eles vinham voltando pelo mesmo caminho, e não precisava ser um gênio para entender que alguma coisa apavorante estava correndo atrás deles. Conforme a gritaria se aproximava, dava para ouvir também uns urros horríveis, muito mais fortes do que aqueles da loira dos infernos. Logo os garotos estariam ali, e a coisa que os perseguia também. Cara, não tenho vergonha de confessar que estava me borrando, e naquele momento a única ideia que me ocorreu foi subir no teto da cabine da caminhonete! Se aquilo fosse algum tipo de cachorrão, talvez ali eu estivesse a salvo. Mas, é claro que não estava. Você consegue imaginar um cachorro de dois metros de altura e que caminha apoiado nas patas traseiras, como se fosse gente?! Então você entende porque eu estava quase me cagando de tanto medo!

            De repente os garotos aparecerem, mas não pararam ali onde estávamos. Passaram reto e continuaram descendo pela estrada, gritando e chorando desesperadamente. Foi então que eu avistei na escuridão um vulto enorme e duas bolas vermelhas e brilhantes que vinham se aproximando rapidamente. Quando percebi que elas na verdade eram os olhos do monstro, gritei, e gritei muito! Só então reparei que o velho e o outro cara estavam parados na estrada, como se dispostos a enfrentar o demônio. O velhote tinha o revólver em mãos, e o outro sujeito segurava um pedaço de pau que ajuntou não sei de onde. Deduzi que o caipira deveria ter mais balas de prata no revólver a até tive esperança de me safar, mas isso durou pouco.

            O velho apertou o gatilho, mas deve ter errado o tiro, pois o monstro avançou pra cima dele e com um só golpe arrancou-lhe a mão que segurava a arma! O pobre coitado mal teve tempo de gritar, pois logo em seguida levou outra patada, desta vez no pescoço, e caiu no chão esguichando sangue. Por incrível que pareça, o outro sujeito foi corajoso o suficiente para tentar enfrentar a coisa. Aproximou-se pelas costas e deu-lhe uma paulada tão forte que o galho chegou a se quebrar. Porém, isso não teve efeito nenhum, pois o monstro se virou muito rapidamente e enfiou as garras na barriga do cara e lhe arrancou as tripas! O infeliz caiu no chão estrebuchando e a coisa soltou um uivo tão forte e terrível que quase me deixou surdo! Olhe aqui os pêlos do meu braço! Fico todo arrepiado só de me lembrar!

            O monstro já estava caminhando na minha direção e eu estava quase desmaiando de pavor, convencido de que seria o próximo a ser despedaçado, quando, de repente, uma saraivada de tiros ecoou por ali, a coisa gritou de dor e depois desabou no chão. Olhei para a parte alta da estrada e vi quatro homens se aproximando com lanternas e espingardas em mãos.

            Eles perguntaram se eu estava bem e respondi que sim, que deveria ter borrado as calças, mas que, fora isso, estava tudo certo. Quando desci do teto da caminhonete vi que no lugar onde deveria estar o monstro havia um rapaz pelado e cheio de ferimentos de balas. Aparentava ter uns dezoito ou dezenove anos. E foi então que fiquei sabendo da parte mais esquisita dessa história maluca.

            Aqueles homens, que eram moradores da região, disseram que conheciam o rapaz, mas que ele havia sido dado como morto cerca de uns vinte anos antes. Apesar de muito surpresos, naquele momento eles conseguiram juntar todas as peças do quebra-cabeça e a história fez sentido. Contaram que no passado aquele rapaz – que era filho de um casal que também morava por aquelas bandas, em uma área da mata bem isolada – foi a um baile em Guaporé e, no dia seguinte, reapareceu em casa muito machucado, dizendo que tinha sido atacado no caminho de volta. Na época ninguém deu muita importância, pois todos pensaram que ele deveria ter apanhado em uma briga de bêbados ou algo assim. Mas foi depois daquilo que várias coisas estranhas começaram a acontecer nas noites de lua cheia. Vacas e porcos eram encontrados despedaçados, uivos sinistros eram ouvidos pelas madrugadas e dois moradores da região desapareceram para sempre, sem deixar vestígios. Todos por ali já estavam convencidos de que tudo era obra de um lobisomem e estavam se organizando para caçar o dito cujo.

            Porém, de uma hora para outra, as aparições cessaram. Na época ninguém relacionou uma coisa com a outra, mas naqueles mesmos dias os pais do rapaz agredido espalharam a notícia de que ele tinha morrido de infecção. Os caras que me salvaram inclusive lembraram do fato de que foram ao velório e que o caixão estava lacrado “por ordens médicas”. E então, a história se fecha com a seguinte informação: uns dois meses antes desta noite terrível que eu estou lhe narrando, a mãe daquele rapaz morreu. O pai já tinha morrido há anos. E foi depois disso que as aparições do lobisomem recomeçaram. Então, a conclusão de todos foi que a morte do rapaz havia sido inventada pelos seus pais, que na verdade o mantiveram preso por todos esses anos por saberem que ele era o lobisomem. Depois da morte da mãe, ele deve ter dado um jeito de fugir e começou a atacar na região novamente.

            Eu perguntei o que seria feito dos corpos, e os caras me disseram que dariam um jeito de fazer tudo desaparecer. Pediram para que eu tratasse apenas de ficar com o bico calado, pois eles se encarregariam do resto. Então, no dia seguinte, inventei uma desculpa para o meu patrão por ter batido a caminhonete e, logicamente, ele ficou furioso, pois perdeu um ótimo negócio. Anunciou que me colocaria para a rua, mas antes me manteve trabalhando por um bom tempo para cobrir o prejuízo do conserto. É claro que eu fiquei um pouco chateado, mas nem tanto assim, pois era bem melhor perder o emprego do que a vida, do jeito que quase me aconteceu. Lembro que algum tempo depois daquela noite eu encontrei um dos meus salvadores em um baile no município de Doutor Ricardo, e ele me contou que foi juntamente com os companheiros até a antiga casa da família do rapaz lobisomem e encontrou uma espécie de jaula subterrânea escondida no celeiro, o que confirmou todas as suspeitas.

            Vou lhe dizer, meu amigo, que eu levei muito tempo para me recuperar daquele trauma. Tinha pavor de ficar sozinho em lugares escuros, me assustava a cada vez que ouvia um cachorro latindo ou uivando de noite e me recusei pra sempre a viajar sozinho depois do entardecer, independente do local ou do trajeto. Ainda hoje tenho pesadelos com aquela história, e sempre que é noite de lua cheia evito sair de casa. E que isso sirva de alerta para você também: há coisas neste mundo que a maioria das pessoas sequer imagina que existam... Mas elas estão lá fora, na escuridão, esperando pelo momento certo de atacar.

            Como?! Certo, certo! Basta desse papo assustador! Vamos pedir mais uma bebida e chegar junto naquelas gatas ali que não tiram os olhos da gente! Garçonete, traga mais uma cerveja!


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