Por André Bozzetto Junior
– Mas o que é isso?! – gritou Padre Carlos, alarmado ao ver o menino cabisbaixo e choroso acorrentado no canto do porão – Soltem essa criança imediatamente!
– Ele está com o diabo no corpo, padre! – exclamou Tião – Há três dias ele saiu para brincar e desapareceu. Quando a gente o achou no mato, na manhã seguinte, tava todo cheio de cicatrizes e agora sempre que anoitece o demônio encarna no corpo dele! É a coisa mais horrível desse mundo, seu vigário!
– Bobagem! Ele não está blasfemando, nem se mortificando, nem levitando, nem falando em outra língua e nem nada que caracterize uma possessão! Soltem-no!
– Pois então o Padre que solte! Já escureceu e logo, logo o diabo vem pra se apossar do corpo do moleque! – gritou o caipira, entregando as chaves dos cadeados na mão do sacerdote e correndo em seguida para fora do porão.
Um minuto depois, quando o luar tingiu de tons prateados a bucólica paisagem, urros licantrópicos emergiram do porão acompanhados pelos gritos de agonia do padre, maculando a calmaria rural da região e substituindo-a por uma aura indescritível de horror e pesadelo.
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