18 de jan. de 2023

O MEU LABIRINTO

 

 

Por André Bozzetto Jr

 

            Quando abri os olhos, já estava aqui, perdido no meio deste labirinto. Não é novidade pra mim. Eu sonho com ele há anos. Desde que entrei na faculdade. Não a de Letras, que era a que eu queria, mas sim a de Administração, que o meu pai exigiu que eu cursasse para depois gerenciar a empresa da família. Como o plano era dele e não meu, funcionou perfeitamente. Me tornei o administrador e o negócio rendeu muito dinheiro. É a única esfera da minha vida onde tive sucesso.

            O labirinto é escuro e amedrontador. Ele deve ser muito grande. Talvez tenha um ou até dois quilômetros quadrados. As paredes não são tão altas, devem ter uns quatro ou cinco metros, no máximo, mas aparentam ser muito sólidas e resistentes. Lá em cima o céu é sempre ameaçador, com nuvens escuras que parecem trazer um temporal prestes a desandar. Nunca encontrei ninguém circulando pelos corredores, mas seguidamente ouço vozes vindo de diferentes direções, chorando e gritando. Antes eu acreditava que eram as vozes de amigos que deixei para trás, de familiares que decepcionei, de namoradas que magoei. Agora começo a acreditar que são versões alternativas de mim mesmo, abandonadas a cada vez que sacrifiquei um sonho em nome de uma ilusão.

            No passado eu pensava que costumava sonhar com o labirinto de tempos em tempos, mas atualmente desconfio que sempre estive aqui e que tudo que vivenciei para além destes muros foram apenas devaneios de uma mente encarcerada. Será que sempre fui um prisioneiro?

            Naquela vida, que eu pensava ser de um homem livre, sempre permiti que me dissessem o que fazer, que me mandassem ir para lá ou para cá. Agora, sem ninguém para me apontar qual direção tomar, fico zanzando entre estes corredores sem chegar a lugar nenhum. Será que sempre estive perdido?

            Eu sento no chão e me escoro no muro. Não por cansaço, mas por desânimo. Então reparo no meu cinto. Ele tem uma fivela de metal enorme, em formato de pomba. Confesso que sempre achei brega, mas, como ganhei do meu avô e ele ficaria desapontado se eu não usasse, tive que usar. Agora ele me deu uma ideia. Uma esperança. As paredes do labirinto são revestidas por algum tipo de argamassa, em uma camada que, apesar de grossa, não é muito resistente. Ao receber alguns golpes com o metal da fivela, o revestimento esfarela, me permitindo escavar frestas grandes o suficiente para introduzir meus dedos. Assim, posso improvisar uma escada e escalar até o topo do muro. Lá de cima poderei ver para que lado fica a saída. Se as paredes forem da largura que acredito, poderei andar por cima delas, me equilibrando até onde terminam.

            Não sei quantas horas levei nessa tarefa, porque aqui o caráter ilusório do tempo é distorcido. Parece que ele nunca passa. Mas, agora já estou chegando no fim da escalada. Coloco um pé sobre o topo do muro, depois o outro, e então estou sobre as paredes. Eu olho em todas as direções. O labirinto se estende por todos os lados, até se perder de vista, ocupando cada centímetro de uma planície absolutamente gigante. Deve ter dezenas, ou, provavelmente, centenas de quilômetros quadrados. Talvez seja infinito.

            Não vejo mais como encontrar o caminho certo entre esses corredores. Sem chance. Porém, se como desconfio, isso tudo for uma prisão da minha mente, pode ser que ainda haja uma esperança. Talvez, ao invés de procurar a saída, eu precise apenas acordar. Mas, como despertar uma consciência que sempre esteve entorpecida em ilusões?

            Eu encaro o labirinto em busca de respostas e ele me encara de volta, oferecendo apenas silêncio e sombras.

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